Produzido pela Voo Audiovisual, Cinema de Amor chega nas telas na época certeira. Em tempo de cortes de verbas públicas para a arte e a cultura, num período do país no qual o Presidente da República e seus seguidores apoiam o discurso de ódio para as comunidades LGBTQ+, a produção torna-se, um registro histórico de um período nebuloso para o Brasil. Dentro deste contexto, o filme aborda a rotina de um casal, que também dirige a obra e que são sócios na Voo. Henrique Filho (Professora de Música) e Edson Bastos (Dr. Ocride) são dois homens jovens, casados, artistas, que resolveram gravar um documentário sobre o cotidiano deles, apenas com o celular.
O ponto alto da projeção está na dinâmica de equilíbrio entre as tensões anunciadas – como a falta de verba e algumas perdas pelo caminho (Sem Spoiler) – mescladas com o a busca pelo tom de poesia e amor – vindos do carinho e leveza da maior parte do relacionamento de Filho e Bastos. Momentos intensos de intimidade, seja um jantar, uma massagem ou até mesmo o sexo, são mostrados com sensibilidade. Este fator vem não apenas pelo carisma das personagens, mas pelos planos escolhidos, pela escolha dos sons ambientes, seja música, ruído ou silêncio, pelas temperaturas que cercam as personagens.
Em questão de enquadramentos, iluminação e etc, o fato da gravação ter sido feita com um telefone celular não compromete a qualidade da exibição. Pelo contrário. De certa forma, este recurso traz para o espectador a sensação de que ele está ainda mais próximo da situação filmada. Outro fator destacável vem do fato de que, ainda que seja uma história vinda da realidade, que procura emular o máximo a rotina fidedigna dos cineastas, é notável como os objetos do “real” compõem as cenas, principalmente nas cores dos “cenários”. Cinema de Amor faz jus ao seu título mais ainda neste quesito.
A sensação é a de que o vermelho preenche o ecrã na maior parte do tempo, deixando a paixão ditar os passos profissionais e afetivos de Henrique e Edson. Mas, além disso, outros tons ditam os humores e climas da trama. Como um leve azul esverdeado, nas ocasiões de preocupação dos dois. E este elemento está também presente no figurino deles, que parecem estar sempre na mesma tonalidade de paletas. A impressão é de que eles combinaram as vestimentas, porém não é possível ter esta certeza.
O que importa aqui é justamente como as materialidades, os acontecimentos e as ações da própria vida dos diretores contribuem para o caminhar do enredo, para as tensões, sensações e expectativas que estão dentro do dia a dia dos dois. A dinâmica ainda consegue aumentar com a presença dos amigos do casal, que poderiam, talvez, não funcionar e quebrar o ritmo ou a naturalidade das sequências, mas, todos entram no modo “Cinema de Amor”, contribuindo positivamente para a totalidade do longa.
Contudo, a produção possui uma fraqueza que é a queda de ritmo quando começa a se encaminhar para o final. Assim como parecem demonstrar Henrique Filho e Edson Bastos, a dúvida sobre o desfecho paira no ar. Não há uma resposta correta para como eles deveriam ter feito isto. Talvez, encerrar antes ou esperar algo ocorrer. No entanto, isto é apenas um detalhe dentro da contribuição que o documentário tem para o cinema nacional.
Direção: Edson Bastos, Henrique Filho
Elenco: Edson Bastos, Henrique Filho
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