Crítica: As Tartarugas Ninja – Fora das Sombras

Em 2014, a versão do produtor Michael Bay para As Tartarugas Ninja estreava nos cinemas recebendo duras e merecidas críticas negativas. Equivocado na maneira como interpretava os icônicos personagens das HQs e da série animada e seu universo, o filme dirigido por Jonathan Liebesman (do igualmente ruim Invasão do Mundo – Batalha de Los Angeles) conferia um caráter sombrio e sério a uma trama que possuia elementos inverossímeis e exigia do seu realizador um tom mais irreverente e cartunesco. As Tartarugas Ninja de 2014 se apresentava ao público como uma interpretação dos personagens que ia na leva de blockbusters marcados pela crença de que o tom certo para qualquer título do seu nicho é a seriedade e o caráter sombrio que tanto fizera bem ao Batman e seu universo na trilogia O Cavaleiro das Trevas, de Christopher Nolan. Acontece que as tartarugas ninja mutantes adolescentes (!!!!!!) Michelangelo, Donatello, Raphael e Leonardo estão longe de se aproximar da figura trágica e soturna que é Bruce Wayne e o tom do filme passava a ser esquisito e descolado das demandas da sua própria história.

As Tartarugas Ninja – Fora das Sombras não vai corrigir por completo os problemas do filme de 2014, mas ao menos esta continuação, que foi parar nas mãos do diretor Dave Green (de Terra para Echo), consegue ser muito mais coerente com a história que pretende contar e com o caráter absurdo dos seus personagens que o antecessor. No longa, as tartarugas lidam com as consequências do anonimato das suas ações heróicas e com o desejo de se tornarem humanos quando se deparam com uma ameaça fruto das ações dos vilões Destruidor e Krang.

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As Tartarugas Ninja – Fora das Sombras é levemente superior ao anterior por abraçar o humor e a despretensão cartunesca que o material exige e que tanto lhe fez falta no primeiro. A entrada de personagens clássicos como os capangas Bebop e Rocksteady, um javali e um rinoceronte, respectivamente, trouxe um pouco da comédia que a franquia precisava. Ao mesmo tempo, o filme também consegue aplicar leveza e humor “retardado”, se é que podemos assim defini-lo, no tratamento dos demais personagens e suas relações, como é perceptível nas dinâmicas entre o grupo de tartarugas, entre os vilões Destruidor e Krang e na adição de Casey Jones (personagem de Stephen Amell, da série Arrow) ao grupo de heróis. Ainda assim, mesmo que a continuação se incline mais para a comédia de ação do que o seu estranho e soturno antecessor, a sensação que fica em As Tartarugas Ninja – Fora das Sombras é que os idealizadores da nova franquia ainda não têm a coragem de abraçar por completo a gramática do desenho animado e permanecem se sustentando em uma estética realista, o que enfraquece um pouco o resultado dos seus esforços. Tudo ainda é muito sombrio, sujo, realista…

Tendo como prioridade o talento dramático de uma atriz como Megan Fox, que não interpreta April O’Neal, mas simplesmente vive a imagem de um fetiche adolescente, e utilizando como participação de luxo uma profissional do calibre de Laura Linney, o foco de As Tartarugas Ninja – Fora das Sombras é mesmo nos seus personagens animados. Em razão disso e por não se desapegar por completo dessa estética realista e sombria, esta continuação ainda não se apresenta como um exemplar satisfatório sobre seus personagens e suas histórias para as novas gerações. Mesmo que estes seres fantásticos ganhem mais humor e estejam muito mais na zona do absurdo do que no filme anterior, a insistência da franquia em construir um contexto que não “lhe cai bem” é uma sombra. As Tartarugas Ninja – Fora das Sombras está mais próximo do que se esperava de um filme como esse, mas ainda não é exatamente aquilo que o seu material-base demanda.

Assista ao trailer: