Suncoast

Crítica: Suncoast

2.5

Seguindo uma tradição de dramas indies estadunidenses sobre a adolescência, Suncoast é o típico filme com selo da Fox Searchlight que chega ao Brasil diretamente no catálogo do serviço de streaming Star+. O elenco do drama conta com nomes conhecidos como Laura Linney e Woody Harrelson, mas como acontece na maioria desses projetos, ambos estampam os pôsteres da produção para gerar algum tipo de interesse no título (ainda que Linney tenha uma presença relativamente marcante neste aqui). O foco da produção é mesmo na sua protagonista mais nova, Nico Parker, a “nepobaby” da vez, filha da atriz Thandie Newton e do diretor Ol Parker.

Suncoast narra a história de Dóris, uma adolescente que mora com a mãe e o irmão, que vive com cuidados paliativos em virtude do seu quadro de paralisia cerebral. Em casa, Dóris sempre foi relegada a segundo plano pela mãe em decorrência da atenção que o irmão requer constantemente, sobretudo no momento em que os acompanhamos no longa, onde ele se encontra nos seus últimos dias de vida. Acompanhando o irmão e a mãe no mesmo hospital que Terri Schiavo está internada (jovem que foi símbolo do movimento a favor da eutanásia), Dóris aproveita a ocasião para fazer algumas reuniões com os colegas de escola em sua casa e viver um pouco a adolescência.

Suncoast é um filme com boas intenções e boas ideias em torno de discussões sobre a vida de pacientes em estado vegetativo e a situação dos seus entes, estabelecendo um contraponto interessante entre a morte e a vontade de viver que é típica da juventude, algo negado a sua protagonista. Por força das circunstâncias, Dóris teve que assumir responsabilidades muito cedo e se anular no seio da própria família, uma situação estimulada pela própria mãe da personagem.

Suncoast

O filme também é marcado por boas atuações. A jovem Nico Parker desenvolve com correção essa protagonista e explora bem os seus conflitos ao longo do filme. Laura Linney, por sua vez, exibe a competência que lhe é habitual no desenvolvimento de uma mulher se desdobrando em mil para dar atenção ao filho, mas que não consegue fazer o mesmo com Dóris. A personagem de Linney não consegue equilibrar o afeto da sua maternidade entre os dois filhos, sendo extremamente afetuosa e dedicada com o rapaz, mas omissa e muitas vezes cruel com Dóris. Linney imprime uma objetividade e secura, mas também sabe utilizar as emoções à flor da pele a favor da personagem sempre que lhe é requerido, nunca colocando aquela mulher como vilã ou como um modelo materno, localizando aquela figura apropriadamente em uma zona cinzenta cheia de humanidade.

O grande problema de Suncoast é aquele que afeta a maior parte das produções similares a ela. Mesmo sendo um filme independente, é curioso perceber como Suncoast segue um padrão narrativo para se tornar palatável: a típica cartilha do “drama familiar leve sobre a adolescência com pitadas de temas urgentes”, contendo a contundência e a gravidade das suas questões com um “freio” para não afugentar um público que poderia rejeitar qualquer tipo de abordagem mais realista e menos pasteurizada daquela realidade. Trata-se de um approach replicado em tantos outros títulos estadunidenses que parecem formatados para a seleção de uma edição qualquer do Festival de Sundance, evento cinematográfico conhecido por receber muito bem esse tipo de projeto.

Com um roteiro e uma direção sem muito brilho, mas disposto a conferir pontualmente momentos bem recompensadores, Suncoast está longe de ser um filme ausente de méritos, mas também não faz muito para buscar qualquer tipo de singularidade no contexto da produção cinematográfica. É um filme que, para o bem e para o mal está em uma zona de conforto, podendo render uma sessão descompromissada e satisfatória nesses termos, mas que pode decepcionar quem espera qualquer tipo de personalidade nesse tipo de história ou quem já está mais do que cansado desse tipo de produção.

Direção: Laura Chinn

Elenco: Woody Harrelson, Laura Linney, Nico Parker, Ella Anderson, Daniella Perkins

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