A diretora Greta Gerwig (Lady Bird – A Hora de Voar) estreia mais um longa centrado em personagens femininas fortes e histórias marcantes. Adoráveis Mulheres é mais uma adaptação cinematográfica do romance homônimo de sucesso da escritora Louisa May Alcott. O enredo narra a trajetória de quatro irmãs criadas pela mãe, já que o pai está lutando na guerra. Com personalidades completamente distintas, elas possuem sonhos diferentes, mas uma ambição em comum: serem felizes e plenamente satisfeitas.
Nesta adaptação atual, a protagonista Jo March é vivida por Saoirse Ronan (Duas Rainhas), que confere a assertividade necessária para a jovem revolucionária. Em uma época em que a melhor opção de vida da mulher era o casamento, Jo decide que quer ser dona de sua própria vida e não depender de homem. Mas suas irmãs não pensam da mesma forma. A sonhadora Meg (Emma Watson, A Bela e a Fera) quer encontrar um príncipe encantado, enquanto a espevitada Amy (Florence Pugh, Midsommar: O Mal Não Espera a Noite) quer uma oportunidade de ser um grande destaque. Para Beth (Eliza Scanlen, série Sharp Objects), o melhor dos mundos é viver em paz com sua música e um bom piano.
A narrativa nos apresenta sem pressa todas as personagens, traçando a personalidade de cada uma e seus objetivos. Além disso, a presença forte da mãe interpretada por Laura Dern (História de Um Casamento), funciona como uma referência para as meninas, mostrando de onde surgiu toda a força delas.
A figura masculina é deixada de lado na maior parte da trama, mostrando que aquele é um palco destinado às mulheres. Mesmo o personagem de Timothée Chalamet (O Rei), que possui grande importância na história, não tem tanto destaque quanto as demais personagens. Greta faz isso de uma maneira muito respeitosa com a obra original, pincelando pitadas de seu perfil de direção, que procura favorecer as mulheres. Essa conduta é sensata e necessária, afinal, é do que se trata a história.
Adoráveis Mulheres é uma obra do século XIX mas que continua sendo extremamente atual. Discussões sobre o papel da mulher na sociedade, seu poder de escolha, as possibilidades que são apresentadas, as dificuldades que enfrenta. Tudo isso é tratado de uma maneira muito leve, porém contundente. O tom escolhido por Gerwig é na dose certa para apresentar novas nuances para a história, sem perder a sua essência.
Outro ponto alto é a incrível escolha de elenco. A unicidade de todos, a maneira como atuam e se respeitam em cena, torna a obra ainda mais equilibrada. Existe um entusiamos em participar do projeto que é perceptível pelo espectador. Temos ainda gratas surpresas, como a breve participação de Meryl Streep (A Lavanderia) no papel da tia March ou de Chris Cooper (Um Lindo Dia na Vizinhança) no papel do vizinho Sr. Laurence.
O quarteto principal tem uma dinâmica harmônica e verdadeiramente fraternal. É difícil definir quem é o elo mais interessante, quando todas apresentam características únicas e distintas. Ainda assim, Florence consegue roubar a cena em todos os momentos, de maneira muito natural. Seus momentos com Saoirse são os melhores do filme, definitivamente.
O longa conta com o suporte de uma belíssima fotografia e figurino impecável, lembrando muito as produções de Joe Wright, como Orgulho e Preconceito. A trilha sonora, no entanto, não é o voto mais alto. Embora Alexandre Desplat seja um compositor de respeito, senti um pouco de preguiça da parte dele em inovar e apresentar algo mais memorável. Ainda assim, não é comprometedor. Apenas não se destaca, como seria o seu comum.
A escolha de Greta em contar a história através de flashes do passado intercalados com o presente é inteligente. Ao mesmo tempo em que o espectador anseia para descobrir mais sobre as personagens, fica com certa melancolia ao saber onde alguns deles vão parar ou que seus sonhos foram “frustrados”. As linhas temporais funcionam como elemento da trama, conferindo maior fluidez à narrativa.
A sensação que o longa passa é de acolhimento, não apenas pela história, como pelas personagens. Temos a vontade de entrar na tela e abraçar todos, vivendo aquele momento. Certamente por isso não percebemos as 2h15 de longa passar. Adoráveis Mulheres tem uma vitalidade impressionante, que conquista o espectador logo de cara. Finalizamos a sessão com grandes momentos propostos pelo filme, especialmente quando, no final, fica ainda mais exposto a exigência da sociedade pelo casamento da mulher.
Direção: Greta Gerwig
Elenco: Saoirse Ronan, Emma Watson, Florence Pugh, Timothée Chalamet, Laura Dern, Louis Garrel, Chris Cooper, Eliza Scanlen, Meryl Streep, Tracy Letts, Bo Odenkirk, James Norton, Jayne Houdyshell
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