duas rainhas

Crítica: Duas Rainhas

Tendo como mote a relação entre as rainhas Mary e Elizabeth I da Escócia e da Inglaterra, respectivamente, Duas Rainhas é um filme que satisfaz e frustra em iguais proporções. O longa de estreia de Josie Rourke pretende, por um lado, ser um projeto que aborda a relação entre essas duas mulheres poderosas, exceções num mundo governado por homens, mas acaba sendo, no final das contas, um longa que toma os rumos de uma cinebiografia exclusiva de Mary da Escócia que tem Elizabeth I como personagem coadjuvante e, pior, tratada apenas na superfície.

Por flertar evidentemente por essas duas vontades conflitantes, o longa acaba não explorando a contento aquilo que possui de melhor, contextualizar a ausência da tão em voga sororidade entre as monarcas e a impotência de ambas, mesmo com tantos poderes em mãos, diante de uma sociedade patriarcal. Quando se transforma numa biografia de Mary, o longa adota uma estrutura de exposição usual a dramas biográficos, apesar de tratar alguns traços da personalidade da rainha da Escócia de maneira interessante, como sua cumplicidade com o grupo de criadas da sua corte que contrasta com a maneira firme como se posiciona nas reuniões de gabinete. É nesse âmbito e em alguns vestígios da natureza da relação entre Mary e Elizabeth I que Duas Rainhas ganha pontos com o espectador e mostra relevância em meio a tantos outros exemplares que já abordaram a vida das suas personagens principais.

duas rainhas

Ao mesmo tempo, Elizabeth I é simplificada por alguns traços da sua amplamente conhecida biografia (afinal, já foi vivida por atrizes como Bette Davis, Cate Blanchett e Judi Dench no cinema, além de Helen Mirren na TV). Rourke se coloca desnecessariamente diante de um conflito, ao mesmo tempo em que parece caro ao seu longa abordar esse contexto histórico pelo ponto de vista das tensões, diferenças e similaridades nas vidas de Mary e Elizabeth I, prioriza a trajetória da primeira. A questão nunca respondida pela história é: Afinal, é um filme sobre uma ou duas rainhas? Saoirse Ronan e Margot Robbie parecem escolhas equivocadas para suas personagens. Jovens demais, ambas estão desconfortáveis em cena, não conseguindo sustentar o peso das suas próprias figuras históricas, principalmente Robbie, que tem uma longa (e injusta) lista de grandes atrizes que já viveram o mesmo papel nas telas a título de comparativo.

Plasticamente, o filme tem seus méritos. Com uma boa consciência sobre os benefícios de sua aplicada fotografia e com um figurino ostensivo que consegue reconstituir bem sua época e operar como signo quando está em cena e contrasta em cores, o longa enche os olhos do espectador, apesar de ser um grande lugar comum como obra. Esses elementos, apesar de bem aplicados, acabam funcionando como redundantes para esse tipo de filme, no qual o mínimo que se espera é uma fiel reconstituição da sua época. No que deveria ter preferencial êxito, sua narrativa, Duas Rainhas não faz um serviço tão justo às suas duas biografadas.

Direção: Josie Rourke
Elenco: Saoirse Ronan, Margot Robbie, Jack Lowden, Guy Pearce, Joe Alwyn

Assista ao trailer!