Crítica: A Dama Dourada

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A Dama Dourada: Helen Mirren interpreta mulher que entrou em uma batalha judicial para reaver a obra que foi roubada de sua família pelos nazistas

Hollywood é fascinada por histórias de lições de vida baseadas em eventos reais e tramas sobre o nazismo. Quando ambas se juntam então, é quase certo ganharão as telas. A Dama Dourada reúne estes dois elementos em um filme que se não é cinematograficamente revolucionário, sutil ou “original”, ao menos apresenta-se como uma narrativa “redondinha”, ou seja, correta e agradável a públicos com os mais diversificados repertórios.

O filme traz Helen Mirren (eternizada como a rainha Elizabeth em A Rainha, desempenho que lhe rendeu um Oscar) na pele de Maria Altmann, uma judia austríaca que fugiu para os Estados Unidos a tempo de não sofrer nos campos nazistas, mas que deixou para trás os seus pais e toda a coleção de obras de arte que eles tinham e que foram roubadas por Hitler e cia. Anos depois, motivada por recentes casos bem sucedidos de restituição de patrimônios artísticos tomados dos seus antigos donos pelo nazismo, Maria Altmann resolve exigir do governo da Áustria que lhe devolvam um dos quadros mais valiosos da coleção de seus pais e que, por sua vez, pertencia a sua tia, a modelo da obra: a famosa “A Dama Dourada” de Gustav Klimt.

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Flashbacks: Tatiana Maslany ao lado de Max Irons. Atriz do seriado Orphan Black vive protagonista na juventude

 

O filme conta com a direção de Simon Curtis. Puxando a sua filmografia descobrimos que ele também dirigiu Sete Dias com Marilyn e percebemos a mesma linearidade em seu modos operandi aqui. Nada de grandes movimentos ou rupturas de linguagem, A Dama Dourada mostra um certo tradicionalismo na maneira de contar sua trama, que pode parecer monótona para alguns, mas também pode ser encarado como o movimento calculado de um diretor despretensioso que parece saber até onde pode ir com a sua habilidade de contar histórias.

Curtis coloca parte do seu filme nas mãos de Helen Mirren, que surge aqui com a sua habitual segurança e competência, fazendo com que estabeleçamos uma simpatia imediata por Altmann. A inglesa divide a responsabilidade da protagonista com Tatiana Maslany (de Orphan Black), que está tão bem quanto Mirren e segura as pontas em momentos bem delicados do filme. Ryan Reynolds tem um desempenho interessante como o advogado que ajuda Maria a reaver “A Dama Dourada”. O elenco ainda traz Katie Holmes e Daniel Brühl, cujos personagens têm muito pouco a oferecer ao filme (Brühl ainda tem uma participação mais determinante que Holmes até).

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Participação insossa: Intérprete da mulher de Ryan Reynolds, Katie Holmes tem presença apagada na história.

 

A Dama Dourada  é um drama convencional, mas que não chega a ser incomodo para públicos mais exigentes. O filme até faz uso de alguns recursos antiquados ou preguiçosos, existem alguns diálogos expositivos (para demonstrar a importância do quadro, o personagem de Daniel Brühl fala “É a Monalisa da Áustria!”, tá, já entendemos que é uma obra importante) e a questionável ideia de que os Estados Unidos são a terra da liberdade, restituindo uma ordem a um cenário de desordem provocado por governos estrangeiros maquiavélicos. Tudo isso incomoda um pouco, é verdade. Mas o saldo é mais positivo que negativo já que o filme usa seus chavões com uma certa moderação e, no geral, o longa acaba sendo uma experiência agradável garantida, sobretudo, por uma Helen Mirren em ótima forma.