Crítica: Divergente

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Divergente chegou em meio a tantos outros filmes em série e sagas adolescentes. Isso torna ainda mais difícil o desafio de conseguir se destacar daqueles que são medianos e se enquadrar naqueles que valem a pena esperar pela continuação. Apesar de um estilo de narrativa bem semelhante a Jogos Vorazes, Divergente conseguiu se distinguir e “mostrar para o que veio” logo no primeiro capítulo.

A história traz uma sociedade pós-guerra, onde foi necessária a criação de um novo sistema de regras para que a ordem fosse mantida e não levasse a outra série de batalhas por poder. Foram criadas cinco facções: Abnegação, Amizade, Audácia, Franqueza e Erudição, cada uma com seu objetivo e papel principal. Quando o jovem atinge certa idade, ele passa por um teste que revela sua aspiração, mas, mesmo assim, ele pode decidir em qual facção entrar. Beatrice é uma jovem da Abnegação, grupo pacífico que visa ajudar os sem-facção, aqueles que ficam a margem da sociedade. Quando ela vai fazer seu teste, descobre que é Divergente, possuindo características que se aplicam a todas as facções. Os Divergentes são vistos como uma ameaça ao sistema, já que são tidos como incontroláveis, então assim que descobertos, são mortos. Beatrice consegue guardar segredo e escolhe ficar na Audácia. Ao entrar na nova facção, ela começa a viver uma realidade completamente diferente da que foi criada.

Vamos lá que o filme tem uma escolha de elenco bem interessante e acertada. Shailene Woodley está muito bem e consistente como protagonista e, embora lembre muito Jennifer Lawrence em alguns momentos, ela consegue se distanciar e assumir personalidade própria. Sua atuação é muito natural e é perceptível a mudança da personagem, que vai da Abnegação a Audácia. Vale ressaltar que ela pode ser vista ainda este ano na aguardada adaptação cinematográfica do livro A Culpa é Das Estrelas. O par romântico vivido por Theo James posa em alguns momentos, é verdade. Lembra um pouco aqueles galãs dos anos 1950, que se preocupavam mais em estar bonito para câmera do que interpretar, propriamente dito. No entanto, ele é um bom ator. Não excelente, mas bom e isso atenua sua necessidade de estar sempre lindo.

Passando para categoria de excelência, Kate Winslet surge com sua primeira vilã e arrasa, como sempre. Seu olhar de desprezo e superioridade todo o tempo, não demonstrando sentimentos, mas exalando perigo, é simplesmente perfeito. Curiosidade: ela estava grávida durante a gravação deste primeiro longa, por isso muitas cenas com pastas nas mãos e com enquadramento superior. Outra que está muito bem é Ashley Judd que, assim como Winslet, mostra os sinais da idade. Judd interpreta a mãe da protagonista e tem papel importante na trama.

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Todo o elenco secundário também vai bem com Miles Teller, de Namoro ou Liberdade, interpretando o traíra Peter, Zoë Kravitz como a amiga de Beatrice, Ansel Elgort, que também contracena com Woodley em A Culpa é Das Estrelas, como o irmão, Maggie Q e Jai Courtney.

À medida que Tris, nome adotado por Beatrice depois que ela entrou na Audácia, vai passando pelo treinamento da nova facção, ela percebe que novas regras estão sendo impostas e que a corrupção pode ser vista em muitos setores. Ele percebe a existência de um plano para a Erudição tomar o poder que pertence a Abnegação e a intenção de exterminar as pessoas desta facção. A sociedade perfeita vai se mostrando não tão perfeita assim.

A trama flui com muita facilidade, o que torna as mais de duas horas de duração rápidas e nem um pouco cansativas. A construção dos personagens é bem feita e até o romance principal, que tem pouco espaço na história, surge com naturalidade. O casal tem química e se fortalece ao longo da narrativa, inclusive na atuação.

A comparação com Jogos Vorazes, no entanto, é inevitável. É uma série de ação com toque de romance, assim como seu antecessor. É melhor? Não. Realmente Jogos Vorazes supera em muitos sentidos e já conquistou o coração de muitas pessoas com Lawrence como protagonista. Mas esse não está muito atrás, não. Tem uma narrativa própria, se sustenta sozinho e traz um ótimo elenco, que se equilibra entre si.

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Claro que têm alguns clichês, como a maioria das séries adolescentes. O casal que se odeia no começo e se ama depois, o segredo que ninguém pode saber, a protagonista como alguém especial e diferente. Mas a maneira como esses clichês são trabalhados muda completamente sua percepção.

Destaque para escolha de trilha sonora que tem Snow Patrol, Pretty Lights e quatro músicas de Eliie Goulding. As canções casam muito bem com as cenas, completando os momentos. Bom investimento para esse tipo de filme. A direção de fotografia está muito bem, com cenários bem feitos e bem escolhidos. Tiveram muito cuidado com os efeitos especiais também, resultando num filme bem encaixado.

Aliás, bem encaixado é uma definição bem adequada ao longa. Ele é bem amarrado e explicado, trazendo uma cena que puxa outra, construção bem feita de personagens e narrativas. O diretor Neil Burguer fez um bom trabalho e conseguiu garantir tanto a produção da continuação, como o público para assisti-la. Vale a pena conferir, sem comparações e sem pretensões. Quando nada, se a história não interessar a alguns, pelo menos as boas atuações já garantem o filme.