Na primeira segunda-feira de setembro de 2023, o Teatro Parque, em Recife, viu sua sala ser preenchida por uma plateia animada, que lotou o espaço, na abertura do festival. A noite começou com o discurso de boas-vindas da artista Ninive Caldas, cerimonialista do evento. Na sua fala, dados numéricos do Cinepe foram divulgados, como o fato de que foram recebidas 752 inscrições de todo país. As obras foram curadas pelos jornalistas e críticos de cinema Nayara Reynaud e Edu Fernandes, que selecionaram 26 produções, entre longas e curtas-metragens nacionais e pernambucanos.
Após os discursos de Ninive sobre dados do Cinepe deste ano, foram apresentados os longas da noite: Ainda Somos os Mesmos, de Paulo Nascimento, do Rio Grande do Sul, e Frevo Michiles, de Helder Lopes, de Pernambuco. Cada equipe teve a oportunidade de subir ao palco e contar um pouco sobre os seus filmes, recebendo aplausos empolgados do público.
Neste clima de troca e explicação sobre os filmes, Paulo Nascimento lembrou a todes a importância do valor da democracia e como é preciso estar atento para que processos como a ditadura militar no Brasil ou de Pinochet, no Chile — bem como as opressões do desgoverno Bolsonaro —, não se repitam. Para ele, a sua obra tem esta relevância de alertar as gerações que não viveram o Golpe de 1964 sobre a inconstância do Estado democrático, bem como deixar viva na história a memória da capacidade da opressão militar.
A base para o longa foram os 42 dias que João Carlos Bona Garcia passou na Embaixada da Argentina, um dos únicos locais aparentemente seguros em um Chile de Pinochet e os seus “milicos”. “Tem muito de ficcional no filme, é assumido, mas inspirado em relatos reais”, explana Paulo. O cineasta ainda explica que buscou mostrar toda a sensação vivida não apenas pelo protagonista, mas por cada pessoa que estava morando ali, junto com ele, na embaixada, em uma situação de perigo, tensão e precariedade. “O clima foi construído também com a música, por um detalhe ali, você vê que ninguém troca de roupa, porque as pessoas só tinham aquela roupa”, conclui.
Já em uma atmosfera completamente oposta e que trouxe um respiro para exibição no Teatro Parque, o documentário Frevo Michiles narra a trajetória, o trabalho e todo o talento do compositor de frevos J. Michiles. Dirigido por Helder Lopes, a produção mistura a contemplação dos momentos musicais de Micheles, juntamente com imagens de arquivo de antigos carnavais e da própria vida do artista.
Além disso, são mostrados momentos de interação entre Michiles com aqueles que lhes são caros, seja sua família ou amigos, como o cantor Alceu Valença, grande parceiro de Michiles. A produtora Kika Latache, ao falar sobre as escolhas e encaminhamentos da narrativa, explica que muito do processo de roteiro de documentário acontece na ilha de edição. De acordo com Kika, foram sete dias de filmagem, porém o maior esforço foi na hora de montar e editar todo o material que eles tinham em mãos.
Todavia, este trabalho parece ter funcionado, porque a plateia entrou no ritmo do frevo e quase saiu dançando da sessão, no final de uma noite de segunda-feira. A vibração de carnaval tomou conta do Teatro do Parque, mas também mostrou a relevância de um festival como o Cinepe, que busca uma diversidade de temas e regiões. Esta característica reverbera em quem sai de casa para acompanhar as projeções.
Estudante de cinema na UFPE, Mira Katz, de 22 anos, afirma que gosta muito e frequenta assiduamente o Cinepe. “É chique um festival que mostra o cinema daqui”, comenta. Já Mariana Eduarda, de 19 anos, e estudante de Letras – Português e Inglês, acompanha o evento há três anos e, em 2023, a sua maior vontade é que o Cinepe fomente as suas expectativas em relação ao próprio cinema, com a esperança de um Brasil que valorize a cultura.