Céu de Agosto é um daqueles filmes que demonstra que, provavelmente, a sua ideia era qualitativamente melhor do que a sua própria realização. Com uma tentativa de trazer os dilemas de Lúcia (Badu Morais), uma enfermeira, moradora de São Paulo, que está grávida e começa a frequentar uma igreja neopetencostal, o curta-metragem se perde ao evitar se concentrar no plot principal. Assim, ao mesmo tempo, juntamente com a premissa da protagonista, existe o fato de que a Amazônia está queimando e uma fumaça toma conta da capital paulista.
No geral, a sensação é a de que a diretora e roteirista Jasmin Tenucci (Descompasso) gostaria de falar sobre muitos temas e situações, mas não consegue explorar a fundo nenhuma. Entre a aflição de Lúcia com o nascimento do bebê, a irritação com a saúde mental de sua avó, as idas à igreja, sua rotina de trabalho e a questão climática, a narrativa se perde e não há espaço para desenvolver os conflitos colocados para Lúcia e o contexto que a cerca. A cada final de uma cena, resta uma sensação de que faltou expor as motivações e sensações da personagem, bem como a ligação de sua trajetória com os subplots trazidos por Tenucci.
Além disso, os diálogos expositivos em Céu de Agosto fomentam mais intensamente esta impressão de uma ausência de habilidade no trato do roteiro. Há uma vontade de explicar o ponto elementar desta trajetória de Lúcia, mas isto é feito insistentemente na fala. Ainda assim, apesar destes incômodos, alguns pontos positivos fazem com que a obra não tenha seu resultado final tão comprometido. Uma estratégia que acaba por funcionar de forma efetiva é a transição da razão de aspecto.
Começando com a tela mais recortada, por assim dizer, o público pode conseguir perceber este sufocamento de Lúcia de maneira um tanto mais palpável. Durante a projeção, o ecrã se abre, como se ela fosse, aos poucos, se encontrando dentro daquele cenário. Talvez, o recurso venha para traçar este processo de libertação dela. Contudo, esta estratégia não fica tão nítida. Mas, ainda há outra escolha que funciona. Esta é a relação de Lúcia com a nova religião que ela passa a frequentar.
Com momentos simples, porém simbolicamente fortes – como na sequência em que Lúcia segura a bolsa na hora dos fiéis darem o dízimo ou quando uma das frequentadoras da igreja fuma em cima dela, ainda que ela esteja grávida –, a sutileza que falta na produção de Céu de Agosto como um todo, aparece nestes instantes. São em momentos como esses que é possível notar as tentativas de discursivas e imagéticas do curta. Ele deseja abordar, principalmente, a hipocrisia da sociedade a solidão da mãe solo – mesmo que a mesma esteja bem resolvida com a ausência paterna. No entanto, há uma dificuldade em construir cada argumentação com profundidade, distanciando o espectador da história.
Direção: Jasmin Tenucci
Elenco: Badu Morais, Gilda Nomacce, Lilian Regina
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