Das Warme Geld

32º Curta Kinoforum: Das Warme Geld

4.5

Após dois anos da queda do muro de Berlim, a história de Das Warme Geld – O Dinheiro Quente, em português – traz a complicada realidade de duas amigas que sofrem problemas financeiros, dentro desta Alemanha reunificada. Dirigido e roteirizado por Christian Petzold (Em Trânsito), integrante da Escola de Berlim, o que se encontra aqui é um resultado equilibrado entre forma e discurso. O enredo leva o espectador a conhecer a rotina de Vera (Manuela Brandenstein) e Heike (Martina Maurer) progressivamente.

Aos poucos, é possível perceber o esvaziamento daquelas vidas abaladas por sonhos megalomaníacos versus a dura realidade que as cerca. A contraposição de personalidades da dupla fomenta a amplitude das prováveis percepções humanas diante de alguma realidade difícil. Enquanto Heike é mais decidida e prática, Vera soa idealista, sensível e titubeante. Nesta dinâmica, a força, a fragilidade e o medo do futuro são postos em suas ações, seus olhares, gestos e movimentações.

Dentro dos diálogos, camadas de interpretações podem surgir, pois o texto, apesar de possuir momentos diretos, apresenta falas que se opõem ao que estas duas personagens vivem. Neste sentido, é possível notar esta dualidade presente na trajetória de Heike e Vera, como se o que elas têm vontade não condissesse com as suas vivências. É neste cenário que o silêncio também amplifica as sensações e quem assiste é convidado a experienciar esta dor aguda que elas sentem, nesta aparente ausência de saída e com escolhas árduas a serem feitas.

Das Warme Geld

As pausas e o não dito criam sentidos próprios e isto faz com que a angústia seja percebida mais intensamente. A decupagem contribui para a compreensão de todos estes sentimentos das personagens e do discurso que deseja ser passado. Dentro dos planos fechados, as dúvidas de Vera e as certezas de Heike são destacadas. Nos quadros mais abertos, curiosamente, o sufocamento se faz presente. Talvez, a estratégia de filmar em espaços sempre cercados por paredes e pilastras cause esta impressão. É como se não houvesse escapatória para elas, caso a vontade fosse de fugir e o desfecho da obra confirma um pouco desta visão.

A partir destas observações, há, apenas, um incômodo aqui, que não é necessariamente algo negativo em si. Este seria que o olhar de Petzold para os destinos de Heike e Vera é um tanto determinista. Ambas não saem de um estado e se encaminham para outro. A estagnação e o fracasso contínuo é uma escolha e esta é compreensível ao se pensar nas atitudes delas durante a trama. No entanto, qualquer tipo de saída que fosse, ao menos, vislumbrada, poderia ser ofertada e isto poderia fazer com que a narrativa ganhasse novos horizontes.

Mas, Petzold parece querer mesmo é evocar este cerco para que os voyers que o acompanham possam observar até onde Heike e Vera irão para alcançarem o sonho de um suposto luxo e algum tipo de conforto. As fronteiras de seus limites são postos em cena em Das Warme Geld e a resposta está logo ali em seu encerramento. A rapidez desta finalização pode chegar como algo abrupto, porém é efetiva a ruptura deste universo fantasioso delas, com a dura verdade do mundo que habitam.

Direção: Christian Petzold

Elenco: Manuela Brandenstein, Martina Maurer, Andreas Hosang