Fairplay

27º Festival Regard: Fairplay

3.5

Os limites da degradação humana são explorados em Fairplay, que não tem medo de ousar e propor imagens angustiantes. Olhando para a ambição que extrapola os horizontes da dignidade e para o desejo intenso de pertencimento dentro da sociedade, a obra deixa um gosto amargo, que se alastra durante a sessão. Seja no jogo do uso das temperaturas (azulado para melancolia e rejeição, alaranjada para juventude inconsequente etc.), aqui há uma consciência de como provocar sensações na plateia através de recursos imagéticos.

Além disso, o desenho de som é concebido para fomentar estas emoções passadas na tela. Ruídos e silêncios falam mais daquelas personagens, que transbordam desespero. Há uma progressão desta atmosfera de insanidade, espalhadas pelos três distintos enredos das figuras centrais da produção. Nestas histórias individuais, toda a aflição da tensão, que aumenta a cada minuto, é elevada também por recursos de montagem.

Um exemplo é da utilização de cortes descontínuos, que imprimem o crescimento do risco e perda da lucidez destas personagens de forma temporal. Assim, Fairplay consegue demonstrar cada passagem desta extrapolação de comportamento. Neste sentido, os recursos técnicos aqui usados são positivos porque eles estão à serviço da narrativa e conseguem transmitir as personalidades de suas personagens em poucos tempo de projeção.

Há um sufocamento impresso no ecrã e o diretor Zoel Aeschbacher está ciente disto. Talvez, até demais, pois, em alguns momentos da exibição, ele parece não dimensionar os momentos de respiro necessários. Por esta razão, ainda que o curta consiga desenhar bem o que quer passar com a sua história e crie camadas elaboradas de suas figuras centrais sem precisar criar diálogos falados extensos ou expositivos, a angústia poderia ser mais dissipada, criando um revelo maior.

Porque, a partir da metade da exibição, todo o frenesi cansa quem está assistindo. Um momento mais sutil faria com que o curta possuísse mais ritmo. A força também está nas pausas e recuadas, porque nesta produção tudo parece estar destacado demais. Todavia, ainda assim, Fairplay agrada por trazer uma pauta que será sempre relevante para a arte, que são as linhas tênues que os seres humanos estão dispostos a ultrapassar para cumprir algum objetivo, mesmo que este seja estapafúrdio.

Juntamente com a temática, o fato de que o filme sabe utilizar a técnica a favor de seu discurso, através de uma direção que dialoga com a montagem para expor as emoções de todas as suas personagens, faz a sua qualidade geral crescer. Ele seria melhor se dosasse a sua lógica frenética? É provável que sim, mas, talvez, a extrapolação da intensidade também funcione como um recurso qualitativo da obra e esta seja a sua grande beleza.

Direção: Zoel Aeschbacher