Le Battues

27º Festival Regard: Le Battues

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O desespero de uma mãe e todos os limites que poderiam ser cruzado após a perda de um filho é o foco principal de Le Battues. A linha tênue entre vingança e humanidade são exploradas de forma intensa pelo diretor e roteirista Rafaël Beauchamp (Beyond the Void).

São nas mesclas de planos gerais e closes, que Beauchamp conecta o espectador com a trama e o faz mergulhar em um cenário de angústia, horror e apreensão. Através de uma progressão de tensão, criada pelas ações cada vez mais desmedidas das personagens, é impossível não se perguntar durante a sessão qual seria o caminho mais correto para se lidar com algo tão avassalador quanto o que é colocado ali na narrativa.

Uma mãe que tem a chance de matar o assassino de seu filho. Esta é uma premissa forte e violenta, mas que mesmo assim consegue ganhar contornos de sutileza e suavidade. Dentro da própria direção do curta-metragem, ações como deixar de mostrar algumas imagens – a chuva que impossibilita que o público veja o desespero da protagonista ou o tiro que é mostrado de muito longe – fazem com que seja muito mais relevante os sentimentos da personagem principal do que da violência que está acontecendo com o antagonista.

Este é um dos maiores ganhos de Le Battues, a forma como é nítida a construção da personalidade Luce (Lily Thibeault) e Laurent Pitre (Antoine) apenas pelo jogo entre mise-en-scéne, enquadramentos e diálogos internos. Não é preciso que muito seja falado verbalmente, porque os silêncios são preenchidos de movimentações e olhares que revelam as camadas plurais de cada personagem.

Talvez, a única fragilidade mais pungente do curta seja a própria a atuação de Lily. Existem emoções intensas de Luce que precisavam de mais força e habilidade técnica. Lily Thibeault possui limitações, que acabam deixando certas sequências artificiais. Nestes instantes, quem assiste pode até se desconectar com a história, porque a atriz não dá conta de expressar facial e corporalmente toda a carga e dor presente em Luce.

Todavia, La Battues é uma experiência visceral. Seja pelo cuidado em revelar as informações gradativamente, por não subestimar o público ou pela coragem em abordar um tema tão pesado, o filme apresenta um resultado geral que mostra a consciência do realizador e de toda sua equipe de que a força mora muitas vezes nos detalhes – nos pequenos ruídos da natureza, na piedade que mora em alguns corações humanos, na frieza e despudor de outros, na distância e na aproximação da câmera, que imprimem um pouco da contradição das pessoas, que vivem cercadas da dicotomia crueldade x bondade.

Le Battues é o ser humano cravado em tela, em toda a sua compaixão, maldade, temor e empatia. É complexo, muitas vezes difícil de acompanhar, por sua temática. Dentro disso, suas escolhas são certeiras e podem causar até sensações físicas na plateia. Um exemplo é o fato dele se passar no inverno e conseguir refletir sobre a frieza da sociedade, deixando que esta temperatura seja quase transmitida durante a sensação.

Desta maneira, são muitas metáforas aqui convocadas, que fazem com que o filme permaneça na mente por alguns dias, após ter sido exibido.

Direção: Rafaël Beauchamp

Elenco: Lily Thibeault, Laurent Pitre, Monique Gosselin