Palavra Grande

10º Olhar de Cinema: Palavra Grande

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Dois meninos desenham cuidadosamente uma cartinha de amor para a crush da escola. Enquanto isso, a mãe da dupla filma a atividade. Através de uma câmera que se movimenta pouco e mais observa as ações dos garotos, Palavra Grande é um singelo filme sobre afetividades e infância. Em seus 12 minutos de projeção, há tempo para o espectador se aproximar das personagens, da família da própria realizadora Manoela Ziggiatti.

Neste íntimo familiar, dentro de uma atividade cotidiana, o curta-metragem consegue construir uma narrativa redonda, na qual há um objetivo, a finalização da missiva, existe curva dramática, a tal palavra grande do título, o conflito também é nítido, evitar o olhar materno e a sua vontade de filmar as crias. Está tudo inserido na sessão, ainda que seja simples é singular. Algumas razões para este resultado um tanto efetivo podem ser elencadas aqui.

A primeira, talvez, seja a identificação. Escrever para alguém que se deseja namorar, ainda que nas primeiras fases da vida, é algo emocionante e quem já o fez, se conecta com a obra imediatamente. A segunda é o fator da espontaneidade dos garotos e até certa ingenuidade deles, fruto da idade. No bilhete, um convite para passar o recreio junto, seguido do pedido de namoro é especial, por ser delicado e infantil (no melhor sentido da palavra)!

Além disso, Ziggiatti procura ambientar o público naquele espaço. A sua decupagem possui poucas mudanças de enquadramento, movimentações e ângulos e é necessário que a dinâmica das crianças não tenha tanta interferência dela. No entanto, a cineasta parece pensar neste olhar que será direcionado para a dupla e no que eles escrevem. É possível ver o papel ofício desenhado, a mesa com lápis de cor, alguns elementos da decoração da residência também.

São nestes detalhes que o curta cria a sua atmosfera. A dinâmica da relação dos irmãos e o intento deles são, assim, passados em sua totalidade. No entanto, é necessário pontuar que, ainda que seja objetivo de Ziggiatti convocar este tipo de estrutura para sua produção, em alguns momentos, a exibição se torna cansativa para quem assiste. É preciso deixar que o tempo das coisas tomem lugar naquele espaço, porém algo tão cotidiano poderia ser preenchido de alguma estratégia que conferisse mais equilíbrio ali.

As velocidades acabam ficando esgarçadas em instantes como quando a primeira frase é formada. Todavia, Palavra Grande aquece o coração e, na maior parte da sessão, é prazeroso de acompanhar.

Direção: Manoela Ziggiatti

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