Como Respirar Fora D’água

XVII Festival Panorama Internacional Coisa de Cinema: Como Respirar Fora D’água

2.5

Entre pressões, violências e tensões, Janaína (Raphaella Rosa) procura resistir, em seus mergulhos internos e literais. Como Respirar Fora D’água traz esta protagonista, que é apresentada com bastante multiplicidade de características em sua personalidade, em pouco tempo de projeção. É possível notar, imediatamente, que ela é uma jovem tímida, porém bastante focada. As camadas para o motivo de seu estado de retração vão sendo postas e é possível compreender mais de seu mundo e vivências a cada minuto de exibição.

Logo depois do treino, Janaína é agredida em uma típica intervenção policial racista, algo que, infelizmente, é uma realidade recorrente no Brasil. A situação é revoltante e forte, mas a decupagem revela um cuidado das diretoras, não apenas em ir mostrando gradativamente o estrago físico e psicológico causado pelo PM, como também na escolha de não revelar na tela, imageticamente, o que de fato aconteceu. Desta maneira, há um tom de denúncia, sem que isso exponha a figura de uma menina negra, como se é feito diversas vezes no audiovisual.

Além disso, Janaína ganha contornos complexos, quando outros fatores de sua vida são explorados, como a sua relação com seu pai – que um policial militar e possui diversas tensões com ela –, com a sua namorada, seu cotidiano de nadadora, questões raciais e de performatividade de gênero. Assim, a construção desta personagem principal é um dos pontos altos da obra.

Existem questões da atuação de Raphaella Rosa, como o fato de que, em alguns momentos, ela carrega no tom e o texto soa um tanto artificial. Todavia, no geral, Raphaella apresenta uma consciência dos sentimentos de sua personagem, trabalhando o texto com pausas e intenções que captam a empatia do espectador. Algo que pode ter interferido na organicidade de sua fala são alguns diálogos um pouco didáticos.

Contudo, aqui, este didatismo não é necessariamente negativo. Certas coisas precisam ser evocadas de forma mais óbvia, como uma afirmação nítida, que não cause nenhuma dúvida. Este fator, na verdade, acontece com o curta inteiro. Ele possui inconstâncias qualitativas, cambaleando entre a sutileza e a obviedade, indo em direção de uma constância rítmica e, de repente, ficando truncado e se perdendo em algumas partes de seu próprio enredo.

O plot inicial afeta as personagens, mas ele vai se dissolvendo e a sua força se perde ainda mais quando o desfecho é abrupto, sem que os acontecimentos sejam amarrados. Falta um tempo de desenvolvimento dentro das relações de Como Respirar Fora D’água. Este é um filme que sabe explorar os sentimentos internos de sua protagonista, porém que falha nesta externalização das emoções dela e de como Janaína seguirá dentro do mundo diante de todo o cerco que se formou ao seu redor. O resultado geral é na média, por assim dizer. Mas, a produção poderia crescer caso as suas próprias premissas fossem trabalhadas amplamente.

Direção: Júlia Fávero e Victoria Negreiros

Elenco: Raphaella Rosa, Dárcio de Oliveira

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