Em uma atmosfera mergulhada em sentimentos múltiplos, que expressam a dor da perda e as descobertas da juventude, Mamá, Mamá, Mamá é um filme que se vale do silêncio e do olhar apurado para as relações. Após a morte acidental de uma criança, chamada Erin, uma família, toda composta por mulheres, reflete sobre seus medos e angústias. Não há muito sobre isto dito de maneira verbalmente na obra. Progressivamente, Sol Berruezo Pichon-Rivière – diretora e roteirista da produção – revela como os acontecimentos da premissa do enredo e as suas consequências afetam as personagens, se apegando mais aos gestos e ações do que a fala direta.
Para imprimir as sensações de melancolia profunda, são evocadas tonalidades azuladas e esverdeadas. Há na tela, a presença de uma forte iluminação. no entanto, as tonalidades trazidas mostram como aquele ambiente tão preenchido de luz no outrora, agora está contaminado pelo luto e por um sofrimento intenso. A elevação da construção deste universo é colocada também através dos sons, sejam eles o barulho de água, da televisão ao fundo, de respirações etc. A sonoridade trabalha para compor esta atenção que as personagens passaram a ter neste presente doloroso. Depois do acidente, elas passam a notar tudo que acontece ao redor, como se estivessem em alerta, prontas para captar qualquer ameaça ou prevenir qualquer perigo.
Além disto, existe em Mamá, Mamá, Mamá uma exploração de diálogos que abordem menos as tensões, mas que focam em outros assuntos presentes nas vivências ali, pois estes chegam como um respiro para aliviar o pensamento fixo sobre a morte da menina. Afogada ao cair na piscina da casa, sem que fosse vista, a partida de Erin deixa a culpa marcada, principalmente, em sua mãe (Jennifer Moule) e na sua irmã mais velha, Cleo (Augustina Milstein). Ambas permanecem anestesiadas pelo o ocorrido e encontram na presença da tia, avó e das primas de Cleo um acalanto terno que necessitam. Por isso, as falas que chegam, são sobre outros assuntos, são alívios para aquele contexto tenso. Neste sentido, é perceptível a entrada de temáticas voltadas para a adolescência, como a menstruação e a curiosidade sobre o primeiro beijo.
Talvez, a ideia posta na trama seja de que a vida continua. Cleo e suas primas passarão por momentos que Erin jamais passará. Algumas conversas são banais, outras indicam temores potencializados pela ideia palpável da morte. Quando as jovens falam sobre um sequestrador que ronda a região ou quando se desencontram na floresta, esta preocupação em não perder mais alguém – ou a si mesma – fica nítida. O relacionamento destas garotas é a chave do equilíbrio para a projeção, é quando o longa-metragem se apropria do poético, do lúdico e da própria inocência juvenil para dosar o peso da tragédia inserida na trama.
Os momentos nos quais Cleo sonha com a irmã ou quando está dentro da água marcam ainda mais esta consciência de Rivière. Ainda, estas cenas tratam sobre ligação materna, lembrando, com imagem e áudio, sobre a proteção uterina e a conexão estabelecida durante o período de gestação. Muitos elementos de Mamá, Mamá, Mamá chegam certeiros e bem utilizados em boa parte da exibição. Contudo, a partir de sua metade, o longa se torna um tanto repetitivo e falha em não concluir o ciclo inicial. O arco de Cleo e sua mãe permanece aberto. Sem conclusões ou aprofundamentos, fica uma espera do espectador por um desenvolvimento do plot e uma dinâmica entre as duas. Elas quase não se encontram dentro da história, não vivem juntas sequências que as movam do lugar inicial. É como se a narrativa andasse em círculos e quando o ponto de partida é encontrado novamente, o começo fosse reencontrado. O resultado disto é uma sessão que vale por sua composição imagética elaborada e sensibilidade ao transcrever emoções através da câmera, mas sem que o público receba alguma imersão nesta proposta aparentemente presente aqui.
Direção: Sol Berruezo Pichon-Rivière
Elenco: Augustina Milstein, Camila Zolezzi, Vera Fowill
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