Continuando a sua tradição de trazer documentários focados em uma única personagem central – como em Lembro mais dos Corvos e Rosa Azul de Novalis – , Gustavo Vinagre agora conta a história de Edivina Ribeiro, também chamada de Wilma Azevedo, seu pseudônimo, em Vil, Má. Jornalista e escritora, Edivina ficou conhecida por suas publicações de histórias eróticas, vinculadas desde os anos 1970. Com 74 anos, na época em que o filme foi rodado (2014), ela conta um pouco de sua trajetória, tanto sobre sua vida pessoal como profissional.
Em uma mescla entre realidade e ficção, Vinagre nos convida a olhar para essa mulher, para seus dramas, polêmicas, fortalezas e fragilidades. De maneira um tanto simples, as memórias de Edivina/Wilma se tornam palpáveis para o espectador. Os recursos evocados podem não ser tão inventivos, como se é esperado do realizador, mas eficazes, no geral. A figura central da obra é vista, majoritariamente, sentada, em uma cadeira pomposa, em um ambiente com elementos dourados e parede rosa. Esta estratégia de ser enxuto em sua forma funciona até certo ponto. Há, aqui, uma garantia de imersão com a trama, pois o foco fica sendo inteiramente dela.
Dentro da sua fala, Edivina/Wilma conta relatos tão pesados em uma voz tão tranquila, que, de fato, os quadros parados e fixos nela, são quase uma apresentação de falta de escapatória do que está sendo contado. Sem fugas para outros elementos, não há alívios, em boa parte da projeção. Neste sentido, há um contraponto observado nisto. As informações, em toda sua intensidade, podem tornar a exibição cansativa e até repetitiva. A falta de respiro dilui a força em alguns momentos, como quando o longa traz uma espécie de reset e pontos específicos do enredo são convocados outra vez. Neste retorno, a reiteração acrescenta menos à Vil, Má do que colabora.
Há uma sensação de ausência de certeza sobre as motivações das escolhas, ainda que estas sejam conscientes. É curioso observar como o fator que marca a produção é tanto o seu elemento de maior qualidade, quanto de maior incomodo. O foco em Edivina/Wilma, o tempo de tela com o olhar voltado para ela, as idas e vindas da narrativa, prendem a atenção e a fazem escapar. No entanto, neste contexto, ainda exista uma busca para imprimir uma complexidade ali. Isto se dá a partir da presença da atriz Juliane Elting, como Wanda.
Elting vem para ler trechos dos contos de Wilma. Ela chega também para cumprir um papel de pessoa comandada por Wilma, em alguns trechos. Esta participação contribui para deixar transparecer mais amplamente traços da personalidade de Edivina/Wilma. Os comandos dados por ela para Elting – e até mesmo para a direção – fomentam a construção do imaginário desta mulher, do que ela foi e nunca deixou de ser. Além disso, é o que traz o mínimo de relaxamento para a projeção, em seus 90 minutos.
No geral, pode-se dizer que Vil, Má merece ser visto. Valendo-se da força de sua protagonista, ele captura o desejo de quem assiste de acompanhar o desenvolvimento do que está sendo mostrado. Ainda que apresente quedas e pouca engenhosidade, descobrir mais sobre Edivina Ribeiro e procurar desvendar onde está a fantasia e a realidade na obra cativam e encantam o público.
Diretor: Gustavo Vinagre
Elenco: Edivina Ribeiro, Juliane Elting
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