Azougue Nazaré

Crítica: Azougue Nazaré

Em sua estreia na direção de um longa-metragem, Tiago Melo, que participou da produção de Bacurau,  mistura uma atmosfera que mescla o cotidiano, com música, fantasia e suspense, em Azougue Nazaré, um filme equilibrado em sua totalidade. Durante 1h20 de projeção, o público acompanha o embate de dois grupos opostos em energia, ideologia e forma de encarar a vida. De um lado estão aqueles que celebram o maracatu e a alegria. Do outro, estão os evangélicos que acreditam que o demônio está presente nos festejos da cidade de Nazaré da Mata.

O ponto alto do longa são os momentos de instalação de clima de terror. Com planos médios e closes, o espectador não consegue ver por completo o que está acontecendo de fato na cena, ainda que seja possível ver elementos postos na mise-en-scène. Isto contribui para certo sufocamento e angústia. Outro fator que eleva o tom destas sequências é a iluminação. Combinada com os enquadramentos, vê-se pedaços intercalados dos rostos daquelas figuras com máscaras e vestes típicas do maracatu.  Por fim, a banda sonora dá o arremate para a criação da ambientação destes momentos, completando características que podem ser consideradas como a chave de uma boa construção de tensão: luz, quadro, som.

Outro elemento a se observar em Azougue Nazaré são as atuações. No ecrã, existem atores e não-atores trabalhando juntos. O elenco consegue criar uma boa dinâmica e imprimir ritmo para a narrativa que está sendo mostrada, em boa parte da trama. Contudo, quando estão em menor quantidade, se perdem nos tempos entre as pausas e acelerações do texto e de suas ações. Um exemplo é a cena do jantar entre Catita (Valmir do Côco) e  Irmã Darlene (Joana Gatis). A sensação é a de que eles ralentam quando deveriam adiantar e vice-versa, dilatando o tempo.

Um aspecto negativo e que, talvez, a presença majoritária de homens na equipe tenha resultado neste fator como consequência, é a visão machista em relação ao corpo e a personalidade feminina. Estereótipos de conflitos e pensamentos são marcas presentes no enredo, como o adultério pelo tédio – culpa aparentemente exclusiva da mulher – e a crente subserviente ao seu pastor que no final aceita o que mais odeia em seu marido, tornando-se duplamente submissa.

Outra questão a se apontar é a falta de força nos momentos triviais da história. Se nos instantes de medo ou festa, o filme cresce, quando as personagens estão imersas no dia a dia delas o longa amorna. O tempo inteiro se vê planos semelhantes, o texto dado sem intenções tão trabalhadas e a trilha sonora não levanta as cenas, seja por ruídos, silêncio ou música.

Direção: Tiago Melo
Elenco: Mestre Barachinha, Ananias de Caldas, Joana Gatis, Mohana Uchôa, Valmir do Côco, Edilson Silva

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