Entre a vida que vive e a que conta, Hannah (Djin Sganzerla) é uma escritora que parece tentar se encontrar durante todo o enredo de Mulher Oceano. Aos poucos, o público vai descobrindo a sua forma de ver o mundo, a sua relação com o mar e os conflitos de Ana, personagem criada por ela em seu novo livro. Em suma, pode-se dizer que há um tom melancólico e de descoberta interior perpassando a história. No entanto, existe algo trucado sobre este filme.
A narrativa parece não se desenvolver completamente, seja nos momentos de Hannah ou nos de Ana. Primeiramente, existe uma dilatação temporal que arrasta a primeira parte do longa-metragem. Há certa demora em mostrar a premissa e acontecimentos de Ana. Enquanto isso, a trama em torno de Hannah parece girar em círculos, não levando a lugar algum exatamente. As situações repetidas – Hannah em seu computador ou as chamadas de telefone, com diálogos expositivos gratuitos- não deixam a roda girar.
A vivência de Hannah em sua viagem para o Japão é bem explorada e há um crescimento considerável quando esta se encontra com o novo conhecido Yukihiko Oumi (Kentaro Suyama). São nos diálogos entre a dupla que o público conhece mais sobre a protagonista e até mesmo sobre o trabalho que ela foi desenvolver em terras japonesas. A relevância de sua jornada se torna mais palpável nestes instantes de Mulher Oceano.
Aparece também nos encontros de Hannah e Yukihiko, a relação dela com o mar. Este elemento que, na verdade, está presente na obra inteira, mas poderia ter também mais força na produção. A ligação de Hannah – e de Ana – é posta como algo subentendido, porém o que instiga e move esta mulher para falar tão incisivamente sobre o oceano soa forçado. Existe um discurso proferido, é bem verdade.
Uma investigação sobre as Amas – grupo milenar de mergulhadoras japonesas – passa corrida na tela, a protagonista observa grupos que nadam na praia do Rio de Janeiro e a própria protagonista do livro que escreve faz travessias periodicamente. Contudo, falta explorar algo mais sólido. Até mesmo o processo criativo de Hannah possui uma falta de significado maior.
Ainda assim, apesar destes tropeços da história, a direção e a fotografia conseguem transformar as futilidades da narrativa em momentos esteticamente elaborados. A sequência inicial é um bom exemplo disto. As temperaturas do pôr do sol, junto com o oceano que banha o corpo de Djin, criam sentidos fortes e intensos que, mesmo não sendo mantidos durante a sessão inteira, acrescentam camadas para a construção do universo de Hannah.
Talvez, a grande questão em Mulher Oceano seja justamente uma vontade de filmar diversos planos fortes, com locações privilegiadas e decupagem cuidadosa, mas sem uma boa história para contar. Não há nada de mal em executar o desejo de entregar imagens plasticamente bem tratadas, onde Japão e Rio de Janeiro são plano fundo. O que incomoda, de fato, é ver um roteiro – escrito por Djin, ao lado de Vana Medeiros – com certo potencial, sem uma linha narrativa estruturada e arcos mal finalizados.
Direção: Djin Sganzerla
Elenco: Djin Sganzerla, Stênio Garcia, Kentaro Suyama
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