Fora de Época

Mostra de Tiradentes: Fora de Época

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O impacto das eleições de 2018 foi intenso e algo que contínua reverberando em nossas vidas. A aflição do resultado da votação daquele ano é tema central de Fora de Época. Mas, ele vai além do medo do caos coletivo e coloca a proximidade deste pavor na relação da protagonista com sua família conservadora. Não vemos seus familiares e toda a perspectiva deles é pelo olhar de Renata (Drica Czech), mas a sua consternação nítida e impressa fortemente.

Isolada em um sítio de seus pais, o que o público vê são suas angústias ao ouvir mensagens de amigos, ao consumir as notícias dos telejornais e ao entrar em contato com a lembrança de sua mãe falecida. Aqui, é onde a produção realmente se faz. Na contraposição do que seu pai representa, a mãe de Renata se afina com sua forma de pensar e sentir o mundo. A sua presença não é física, mas extremamente palpável dentro da obra. Há, assim, um equilíbrio narrativo, onde existe o temor, mas não um discurso derrotista.

Neste sentido, vemos uma mulher, que além de demonstrar uma visão progressista da sociedade, é lésbica. Esta característica de Renata também amplifica os sentidos do curta-metragem, porque adiciona a camada dos possíveis preconceitos e dificuldades que passou com seus parentes. Mas, leva também ao ponto em que o nome da escritora Cassandra Rios é evocado. A artista, que foi perseguida na ditadura militar, falava sobre a homossexualidade feminina. Desta maneira, o filme está a todo tempo traçando uma linha argumentativa complexa, entre os amargores e esperanças. Isto tudo é exposto sem que haja uma perda da lógica interna do curta Fora de Época.

Talvez, se queira dizer muito em poucos minutos de projeção. Ao final da sessão, fica a sensação de que os múltiplos subtemas não são bem explorados como deveriam ser. Contudo, ao mesmo tempo, as inúmeras informações postas na tela elevam o sufocamento sentido não só por Renata, mas pelo espectador que viveu algo semelhante a ela. Os diversos contextos do passado do país, que agora parecem se repetir no presente, afogam, consomem e perseguem aqueles que não se esquecem do outrora.

Pensando neste turbilhão que o Brasil vive, desde o golpe de 2016, é possível até relevar a sede do roteiro de Czech em querer falar de tudo em Fora de Época, de todos os sentimentos habitados naquela data funesta, em que os brasileiros elegeram este “presidente” que temos hoje. E para falar do assunto, não escapam detalhes para deixar nítido quem ocupa cada lugar no enredo do filme. É na cor vermelha que Renata traja, na bandeira do Brasil, balançando do lado de fora da casa de seu pai, nos nomes de mulheres lésbicas e bissexuais marcantes para a história do país nos créditos, nas vozes tensas de Renata e sua parceira no telefone, na procura de fugir do impossível.

Direção: Drica Czech e Laís Catalano Aranha

Elenco: Drica Czech, Cadu Batanero, Laís Catalano Aranha

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