Um filme pode se basear mais diretamente em sua estética, focar mais na técnica cinematográfica, sem esvaziar a sua história a serviço disto. Não é o que ocorre aqui em A Luz Incidiu Sobre Nós Como a Pálida Noite. Aparentemente, existe uma vontade – um tanto pretensiosa, diga-se de passagem – em evocar planos que revelem mistério, angústia e as inquietações das personagens principais, mas sem apresentar uma progressão ou aprofundamento das situações.
A relação das irmãs Ana e Ísis não é explorada, pois os diálogos se perdem em uma artificialidade expositiva, deixando que o não dito se esvaia, nesta tentativa de querer mostrar algo o tempo inteiro. O trabalho das atrizes também não colabora para que haja fluidez no texto. Talvez, o tom enunciativo domine a construção das duas (Giovanna Paiva e Cris Eifler) de maneira mais incisiva do que precisaria ser.
É neste exagero e aflição para criar uma obra profunda que o conteúdo se esvazia e a direção também é responsável por esta atmosfera falsa. A decupagem traz quadros e movimentos que soam pensados plasticamente, porém não idealizados para contribuir diretamente com o enredo. A questão central deste média é esta. Lucca Girardi não consegue amarrar o que concebeu no seu roteiro com o que está dirigindo.
Um exemplo que ilustra esta sensação é a sequência na qual Ana e Ísis discutem e vê-se uma panorâmica que vai da mão de uma para outra. Este momento não é orgânico ou justificável. Ele não acrescenta narrativamente, não revela aspectos da personalidade das irmãs ou características da casa onde elas estão. Esta observação pode ser feita durante toda a projeção.
Na vontade de ser criativo e ressaltar o domínio da técnica do audiovisual, o efeito obtido é justamente o oposto. A tentativa é válida, mas pode ser feita com consciência e no apoio da criação de sentido, do estabelecimento de atmosfera, na formação das características das personagens etc. Caso contrário, o resultado final fica comprometido. Contudo, apesar destas questões aqui apontadas, A Luz Incidiu Sobre Nós Como a Pálida Noite tem um elemento que chama atenção por sua qualidade: a iluminação.
O jogo de luz e sombra permite a marcação de alguma suspensão e um pouco da ambientação desta casa cheia de vazios, tensões e aflições. A imensidão da residência e a pequenez de Ísis e Ana são postas em jogo. Os graus das emoções delas são pontuados pela gradação da luminosidade, sendo euforia e melancolia os extremos. Assim, no geral, a produção é uma experiência cansativa e negativa, porém com alguns instantes agradáveis.
Direção: Lucca Girardi
Elenco: Giovanna Paiva e Cris Eifler
Confira as nossas críticas de festivais clicando aqui!