Gigante nunca adormecido: As versões de Godzilla ao longo do tempo

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A gênese do monstro: Crítica ao uso indiscriminado de armas nucleares pelos governos a partir da metade do século passado.

 

Com 60 anos de existência, Godzilla é uma das criaturas mais celebradas da ficção e que retorna aos cinemas a partir dessa quinta-feira (15), com o filme de Gareth Edwards. Praticamente o precursor dos filmes catástrofes, o lagartão oriental foi criado em 1954 e totaliza um número impressionante de 28 longas metragens no currículo.

A estreia do monstro foi no filme de Ishiro Honda, que tinha como o título o nome da criatura. A produção japonesa Godzilla, de 1954, trazia o surgimento de um lagarto fruto de testes nucleares norte-americanos no litoral japonês. As ações humanas deram origem a um monstro assustador parecido com um dinossauro que tinha a fúria de uma grande besta, deixando um rastro de destruição e morte por onde passava. Na época, o Japão ainda assimilava todos os efeitos devastadores do manuseio de bombas atômicas.

Especula-se que Honda buscou a inspiração para a origem do Godzilla em um episódio que tomou conta das páginas dos jornais japoneses em janeiro daquele ano. Um navio de pesca chamado Lucky Dragon 5  sofreu uma série de eventos estranhos em uma saída rotineira nas proximidades da cidade de Yaizu: redes sabotadas pelos corais da região, a quebra do motor da embarcação e, o mais grave de todos, a falta de comunicação da tripulação que não recebeu o memorando que trazia a informação de que naquela ocasião estavam sendo realizados testes nucleares. Todos acabaram sendo expostos aos efeitos químicos das explosões e, quando retornaram da pesca, os tripulantes começaram  a desenvolver queimaduras, sangramentos nas gengivas e inchaços nos olhos. O governo japonês imediatamente tomou providências e colocou todos os pescadores que estavam em Yaizu na ocasião dos testes em quarentena. No entanto, não contava com o estrago causado pelos peixes vendidos por esses pescadores, que acabou levando muitas pessoas a óbito.

O primeiro Godzilla dos cinemas começa justamente com um ataque do réptil gigante a um navio. E o filme de Honda é, além de um grande entretenimento, uma crítica declarada ao uso de armas nucleares pelos governos. O Deus monstro é a resposta da natureza a humanidade que trata o planeta de maneira tão predatória.

Os quadrinhos

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Godzilla na Marvel: Nem os heróis da S.H.I.E.L.D. conseguiram conter a fúria do lagartão japonês.

 

Com a sucessão de longas protagonizados pelo monstro no Japão, seria natural que a criatura fosse transportada para o Ocidente por alguma plataforma. Uma das mais interessantes abordagens dadas a Godzilla fora do seu país natal foi a HQ publicada pela Marvel entre 1977 e 1979, com a assinatura de Doug Moench.

Na trama, o monstro seguiu em um período de hibernação no Alasca e acorda nos EUA, levando destruição por onde passa. Na medida que Godzilla percorria algumas cidades do país, a S.H.I.E.L.D. foi acionada pelo governo norte-americano para tentar dar uma solução a questão. Personagens conhecidos do universo Marvel tentaram conter a fera, como o Homem-Formiga e o Dr. Fantástico.

Recentemente, com o lançamento do novo filme, a Marvel relançou histórias com o monstro com a assinatura dos roteiristas que comandam a atual produção, Greg e Max Borenstein. A nova publicação foi batizada de Godzilla: Awakening e já está em circulação  nos EUA.

O filme indesejado

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Fúria americana: Crítica e fãs rejeitam versão ianque do monstro japonês. Até ao Framboesa de Ouro o monstrengo foi indicado!

 

Em 1998, Hollywood traz a sua versão do monstro em um filme do rei dos filmes catástrofes: Roland Emmerich (Independence Day, O Dia depois de Amanhã e 2012). Com gente do calibre de Matthew Broderick e Jean Reno no elenco, o longa chegou às telonas na temporada de blockbusters norte-americana daquele ano.

O filme possui algumas similaridades com o filme-gênese de 1954, dirigido por Ishiro Honda. Nele, o Godzilla é cria de uma explosão nuclear ocorrida na Polinésia Francesa e assim que o monstro é despertado arrasa por completo a cidade de Nova York, a vítima usual de Emmerich em seus filmes. O longa faturou cerca de 400 milhões de dólares, mas teve críticas negativas e foi atacado por todos os fãs dos clássicos japoneses com o monstro. Além disso, o filme recebeu ingloriosas indicações ao Framboesa de Ouro, premiação dos piores filmes do ano, entre elas, a de pior remake.

O que se disse na época é que Emmerich, como um apaixonado por efeitos visuais, se fiou muito na grandiosidade e nas ações do seu Godzilla digital, deixando as demais histórias em segundo plano e até o próprio monstro sem expressão alguma na trama. Tudo em Godzilla era megalomaníaco desde a criatura criada até as sequências de ação que não tinham elemento humano algum, o que não acontecia nos primeiros filmes japoneses. Além de tudo, Godzilla era, na sua essência, uma grande metáfora para uma situação política vivida no mundo na época em que fora criado. O Godzilla de Emmerich não apresenta nem de perto esse teor.

Versão 2014

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Banner da nova versão do lagartão: Mais drama humano e mais fiel à proposta e ao visual original do monstro.

 

Passando um corretivo em tudo que deu errado no filme de 1998, Gareth Edwards impressionou os fãs com os primeiros trailers da nova produção que além de manter um suspense no visual do monstro, trouxe como centro seus personagens humanos, vividos por Aaron Taylor Johnson (Kick-Ass), Elizabeth Olsen (Martha Marcy May Marlene), Juliette Binoche (Cópia Fiel), Bryan Cranston (da série Breaking Bad), Sally Hawkins (Blue Jasmine), David Strathairn (Boa Noite e Boa Sorte) e Ken Watanabe (A Origem).

Gareth é novo no ramo e só tem no currículo o bem sucedido e modesto sci-fi Monstros, que conta a história de uma zona infectada no México após um invasão alienígena. De qualquer forma, Edwards parece estar se especializando na abordagem e garantiu que o novo Godzilla tenha semelhanças com a abordagem do longa japonês original, criticando as ações norte-americanas em situações de terrorismo e a maneira desregrada que a humanidade usa a natureza.  Além disso, o longa de Edwards se assume como uma continuação do clássico de 1954 e considera diversos pontos levantados no filme japonês. Só por essa decisão, o diretor agradou muita gente.

As primeiras críticas exaltam a produção chamando o projeto de “filmaço” e elegem o destaque dado aos personagens humanos como o seu grande mérito.

Pelo visto, o lagartão gigante não vai adormecer tão cedo e muito ainda será ouvido e contado sobre ele.

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