Silêncio e despedida marcam o curta-metragem Noite Perpétua. Narrando os últimos minutos de Matilde Morillo Sánchez com a família, o filme é coberto de pela imensidão de sensações e percepções, dentro de um ambiente fechado que a sua residência. Aqui, sob o nome de Paz (Paz Couso), há uma crescente de sua relação com a casa e os moradores dela. Dentro desta lógica, existe um ambiente sufoca, pelo fato das personagens estarem enclausuradas ali durante toda exibição, este é, no entanto, também o refúgio do que é esperado do lado de fora. A obra traz o exato momento da chegada dos falangistas que irão levar Sánchez embora. Na época, a Guerra Civil Espanhola havia acabado de terminar. Paz era esposa de um dirigente socialista. Os relatos históricos revelam que a mulher jamais retornou e seu corpo nunca foi encontrado.
Esta angústia de uma derrota anunciada é fomentada pela pouca luminosidade do ambiente, no qual não se vê completamente todos os detalhes do local ou até das personagens. Em um jogo de luz e sombras, as atrizes e atores de Noite Perpétua se posicionam revelando mais ou menos os seus rostos e corpos. Esta estratégia fomenta a sensação de uma noite difícil e de tristeza. Esta tensão também é impressa pela câmera que pouco se movimenta e somente o faz com mais vigor em momentos de virada da narrativa. Um exemplo é quando a rotina noturna de Paz e sua família é interrompida pelo anúncio de que ela terá que ir embora. Mantendo a imagem em quem segura o neném, filha caçula da protagonista, a cena somente volta acompanhar Paz quando ela se dirige até a porta. Em um zoom out, a figura opressiva destes homens é colocada, ainda que eles estejam de costas. Desta maneira, o autoritarismo se faz presente, mas o foco principal da ação ficam sendo as emoções de Couso, que procura esconder seu temor diante daquela situação. Lentamente, o quadro vai se fechando, em um zoom in, aumentado a possibilidade de investigação dos sentimentos dela, que mistura expressões de clamor e revolta.
Logo em seguida, há uma outra virada, quando Paz fecha porta. Em um rápido zoom out, o rosto de Couso se modifica em poucos segundos e sua consternação é acompanhada. A produção toma seu tempo para compor o cenário de lamento que se instala na tela. Paz e as duas mulheres que estão ali, sentam ao seu lado para vê-la amamentar a sua filha pela última vez. Há, neste instante, assim como em toda projeção, apenas os ruídos daquele espaço. Contudo, eles passam a sensação de serem mais fortes, pelas trocas de olhares das intérpretes, juntamente com o quadro imóvel e a ausência de palavras.
Estes recursos provocam e cooperam para a criação da atmosfera desejada. No entanto, toda a sequência que acontece a partir da cena de Paz alimentando seu bebê retira a força da produção. Aparentemente, nem o roteirista e nem o diretor sabiam muito bem como lidar com a conclusão do enredo. Há sobras em um curta de pouco mais de 17 minutos. Se até a sua primeira metade a pouca iluminação, os sons, angulações etc., favoreciam para o estabelecimento das tensões, na segunda parte são técnicas semelhantes que vão se esvaziando de sentido.
O desfecho em si, o quadro final que convoca quem assiste Noite Perpétua a conhecer, finalmente, o lado de fora, vem de um zoom in, indo de um plano médio das janelas e da parede, até chegar na área externa. O que ocorre é que esta ideia que tenta ser poética e imprimir uma ideia de finitude, talvez, não crie nem uma conclusão mais prática de um cinema tradicional e nem um desfecho metafórico, com signos que levem para outros lugares. Ao final da sessão, resta o pensamento de que a busca por uma forma mais elaborada prevaleceu, mas não foi alcançada. Assim, a trama intensa e trágica se enfraquece.
Direção: Pedro Peralta
Elenco: Paz Couso, Sara Piris, Domicilia Nunes
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