Contando a trajetória do ator e diretor Zbigniew Ziembinski, o documentário Zimba procura trazer um apanhado geral da vida do artista. Seja por momentos mais práticos – nos quais pedaços da sua vinda para o Brasil e todas as consequências disso aparecem –, ou nos instantes mais etéreos, com detalhes e sensações de sua produção, existe aqui um cuidado narrativo em tentar ambientar o espectador. Através de um roteiro conciso, no geral, o filme transmite, majoritariamente, o que ele parece desejar: toda a complexidade criativa de Ziembinski, seu talento e a sua paixão pelo teatro e pelo cinema.
Ziembinski possui uma grande relevância para as artes cênicas do país e é considerado como um dos criadores do Teatro Moderno brasileiro. Para contar isto para o público, a projeção utiliza alguns recursos positivos, que constroem e elevam uma atmosfera do ambiente teatral, algo importante pelo fato das Artes Cênicas estarem presentes em sua carreira. Assim, há um bom uso de intérpretes entrevistadas, juntamente com outros atores que representam personagens de obras dirigidas pelo encenador. A iluminação é o ponto alto aqui, pois ela direciona o olhar para a cena e aumenta a potencialidade sensível, seja pelo o próprio tom melancólico selecionado (azul) ou como o foco é trabalhado, por vezes iluminando toda a mise-en-scène ou parte dela.
O segundo elemento destacável em Zimba são as narrações e os depoimentos feitos por três nomes conhecidos do audiovisual e/ou dos palcos, sendo elas: Nathália Timberg, Nicette Bruno e Camila Amado. Por elas serem atrizes experientes, é perceptível o trato que elas dão para as suas leituras e como contam cada história . Este fato é ainda mais presente em Amado. A textura que ela dá aos textos, incluindo quando ela diz alguns pedaços de obras dramatúrgicas, revelando a sua consciência de criação de imagem através da fala. A dinâmica do trio, que aparece separadamente, faz as sensações crescerem e emocionam e empolgam quem assiste.
Por fim, pode-se falar sobre como a escolha das imagens de arquivo, juntamente com a forma como estas são colocadas, contribuem para a compreensão do estilo artístico de Ziembinski, bem como funcionavam seus processos. Além disso, fica nítida a amplitude de seu trabalho, quando são mostradas cenas e sequências de suas performances como ator, deixando para gerações novas, ou para quem o desconhecia, um material cuidadoso e extenso, que consegue abarcar esta pluralidade de Zimba.
No entanto, duas questões são incômodas aqui. A começar pelo trato um tanto plano sobre a figura de Ziembinski. É compreensível que agora ele seja visto como um mito do teatro ou, talvez seja intencional esta perspectiva mítica. No entanto, as suas emoções são poucos exploradas. As relações de Ziembinski com a família e amigos são mencionadas, mas sem a mesma profundidade do restante.
Assim, a decisão de colocar a sua vida pessoal no documentário poderia ser distinta. Manter seu passado na seara mais íntima, mas realmente falando dele ou retirá-lo. O fato é que chega raso em quem assiste. Com esta ausência de equilíbrio na abordagem dos aspectos da jornada de Ziembinski, o final da projeção chega um tanto truncado. Sem uma amarração mais efetiva, a sessão termina abruptamente e deixa uma sensação de que não houve uma conclusão ali. Esta não haveria de ser óbvia ou qualquer coisa semelhante. Ou poderia existir uma espécie de continuidade deixada no ar. Contudo, não parece proposital a falta de mão para terminar o longa.
Direção: Joel Pizzini
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