Revelando a trajetória de quatro jogadoras de xadrez da Geórgia, Glória à Rainha busca intercalar as vivências delas, com a repercussão que causaram no país. Nona Gaprindashvili, Nana Alexandria, Maia Chiburdanidze e Nana Ioseliani possuíram o auge de suas carreiras durante o período no qual a União Soviética existia e as tensões da Guerra Fria, juntamente com os preconceitos de gênero, faziam com que elas precisassem fazer concessões e tomar riscos para que pudessem construir o que desejavam.
Aqui, é possível encontrar uma tentativa de criar dinamicidade e coesão, através de idas e vindas das histórias das personagens centrais, o roteiro convoca o espectador a também conhecer um pouco sobre mulheres do país que ganharam seus nomes em homenagem às enxadristas. No entanto, apesar da estratégia em si ser um tanto criativo e elevar o entendimento sobre a importância das jogadoras para a Geórgia, o recurso de misturar tantas subtramas ao enredo acaba ficando repetitivo e cansativo, à medida que a projeção avança.
Sem seguir uma linha narrativa fluida, a cada mudança de depoimento, o público pode se sentir desconectado com a obra e até se desligar do que está sendo contado. Ainda existe outro elemento que fomenta esta sensação. Entre os depoimentos e conversas entre o quarteto, imagens do passado são mostradas e narradas em alemão. Há uma ausência de ligação dos momentos prévios e posteriores, nesta mistura temporal e contextual, o ritmo se esvai.
Além disto, através de cortes secos, a troca repentina de cena e atmosfera aumenta a impressão de rupturas recorrentes. A decupagem também parece atrapalhada. Os deslocamentos e os planos fixos não se justificam, um exemplo é a sequência em que uma das entrevistadas fala calmamente sobre seu passado, parada, mas a câmera está na mão e a imagem treme um pouco. Isto acaba por passar uma ideia oposta ao que está acontecendo de fato. Não é exatamente a falta do uso de uma steadicam que incomoda, porém a falta de compreensão – ou preocupação, talvez – da direção em decupar filme pensando nos sentidos de cada sequência.
Ainda assim, a força das próprias personagens centrais reduz os danos gerais da produção. Com uma espécie de carisma, mesclado com humor ácido, Gaprindashvili, Chiburdanidze, Ioseliani e Alexandria, em suas diferenças e aproximações engajam quem assiste a acompanhar suas ideias, conquistas e recordações. Glória à Rainha é, de fato, irregular. Com uma dinâmica entrecortada, é difícil acompanhar até o final sem cansaço, porém, com um esforço, é possível se entreter com as figuras principais, conhecer um pouco mais do país Geórgia, suas tradições e transformações.
Direção: Tatia Skhirtladze, Anna Khazaradze
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