Festival de Gramado: Quanto Pesa

3.5

Entre ruídos e planos detalhes de uma peixaria, o espectador se depara com um protagonista, imersa em sua rotina de trabalho, em Quanto Pesa. Não há muito texto falado aqui. As suas emoções estão diretamente ligadas às suas ações físicas, seus semblantes e olhares. Através desta estratégia é que o diretor e roteirista Breno Nina (Alcibíades) consegue transmitir uma conexão intensa com a história que ele está contando.

Entre todas as aproximações, sentidas nesta observação cuidadosa da câmera com o universo ali apresentado, é que pode ser feita a relação entre a personagem principal, seus desejos e decepções, com quem assiste a obra. A dor da perda de um amor ou a insistência dos dias repetidos de labor, que são necessários viver, enquanto a vontade é de que tudo queime.

Ao mesmo tempo que os recursos sonoros e seus quadros fechados evoquem esta proximidade, eles também afastam ao provocar sensações de angústia ou nojo, através de enquadramentos dos insetos e animais dentro da peixaria. O que eleva a potencialidade destas imagens, além de seu som, é a escolha de mesclar estes momentos com baratas, formigas e ratos com cenas dos funcionários da peixaria, que almoçam costumeiramente.

Há um mérito não apenas da decupagem da produção de Quanto Pesa, mas também de sua montagem. A curiosidade e a vontade de permanecer olhando para o ecrã a cada instante cênico é seguido de uma surpresa do que será  mostrado mais adiante, o que torna a experiência intensa, no geral. Ainda assim, apesar de conter tantos elementos sensoriais e imagéticos que conectam o público com a narrativa, talvez, falte aqui uma liga maior entre os acontecimentos do enredo. Isto não é algo que comprometa a sua totalidade, longe disso. Contudo, o impacto estético é tão intenso que o restante sobra, é menos cuidado.

Direção: Breno Nina

Elenco: Dona Rai, Tieta Macau, Antônio Rodrigues