Universo Estendido DC

Especial: Universo Estendido DC

A caminhada do Universo Estendido DC (DCEU) não foi fácil. O novo projeto do estúdio luta para se provar digno da atenção do público e crítica desde seu início com o lançamento de O Homem de Aço (2013). O estúdio precisou (e ainda precisa) enfrentar grandes obstáculos. O curioso é que eles foram criados antes mesmo de seu surgimento.

Logo no início dos anos 2000, as adaptações de histórias em quadrinhos explodiram. A DC logo começou a investir em live actions de suas hqs mais conhecidas. O estúdio também passou a desenvolver ainda mais animações. O problema é que nem todas as adaptações tiveram uma resposta tão positiva.

CAMINHADA DAS ADAPTAÇÕES

Depois de 7 anos do lançamento de Batman & Robin – o qual é altamente desaprovado pela crítica – chega aos cinemas o filme solo da Mulher Gato (2004). Estrelado pela extraordinária Halle Berry (X-Men: Dias de um Futuro Esquecido, de 2014, e John Wick 3: Parabellum, de 2019), o longa-metragem foi um fracasso que passou a assombrar a memória dos fãs. O projeto passou a ser um exemplo escrachado do que não se fazer numa obra audiovisual.

Apesar dessa derrota, os live actions continuaram a surgir. Estrelando Keanu Reeves (Matrix, de 1999, e Bill & Ted: Encare a Música, de 2020) como o famoso demonologista Constantine, a adaptação dos quadrinhos Hellblazer foi o projeto seguinte. O longa de mesmo nome foi bem recebido pelo público e gerou uma bilheteria duas vezes maior que seu orçamento. A história de horror, apesar do sucesso, nunca se propôs a ter um desenvolvimento para além do primeiro projeto.

E aí veio o maior ouro da DC antes do Universo Estendido. No mesmo ano, a Warner Bros. iniciou o projeto do Christopher Nolan que viria a ser uma trilogia sobre o Cavaleiro das Trevas de Gotham City. Batman Begins (2005) foi a primeira mega produção da DC/Warner a alcançar aclamação entre crítica e público. A partir deste momento, as adaptações passaram a serem vistas com olhos mais atenciosos para suas futuras obras.

Em seguida, em 2006, Superman, o Retorno procurou trazer o maior defensor do universo para as telonas. O filme, apesar de ter um resultado positivo, não alcançou a bilheteria esperada. Esse desempenho financeiro decepcionou a Warner, que acabou abandonando a sequência que estava planejada. Depois disso, projetos sobre o Homem de Aço ficaram sendo postergados até o surgimento do DCEU.

Após a história sobre o kryptoniano, restavam 5 longas antes do desenvolvimento do Universo Estendido. Primeiro veio a segunda parte da trilogia do Nolan,  momento este que representou o ápice das adaptações. O longa foi tão bem recebido que ainda garantiu um Oscar póstumo para Heath Ledger (10 Coisas que Eu Odeio em Você, de 1999, e O Segredo de Brokeback Mountain, de 2005) em sua performance deslumbrante do Coringa. Após o lançamento de O Cavaleiro das Trevas (2008), os problemas voltaram à tona.

Fosse pela crítica ou pelo público, os projetos seguintes não vingaram. Watchmen (2009) traz um olhar para outro universo dentro dos quadrinhos da DC. Com uma perspectiva um tanto pretensiosa, Zack Snyder estreou à frente de uma produção que tinha tudo para vingar, mas não deu certo. Mesmo dividindo a crítica na época, o longa saiu como um delírio visual do diretor que não conseguia captar a atenção daqueles que desconheciam as hqs. E isso, evidentemente, refletiu na bilheteria.

Nos anos seguintes, estrearam dois filmes que, ao lado de Mulher-Gato, representam o que há de mais tosco e bizarro nas adaptações da DC. Em 2010, o público conheceu Jonah Hex. Interpretado por Josh Brolin (Sicário: Dia do Soldado, de 2018, e Vingadores: Ultimato, de 2019), o personagem que dá nome à história traz uma narrativa de vingança num cenário faroeste. Para resumir o resultado da recepção do projeto, ele levou o título de pior filme do ano pelo Houston Film Critics Society.

E depois desse fracasso, a Warner conseguiu o feito de apresentar mais um. Desta vez, ainda mais doloroso financeiramente. Lanterna Verde (2011) foi uma tentativa de introduzir um dos mais conhecidos personagens da Liga da Justiça. Escolhas equivocadas, um roteiro confuso e um CGI estranhíssimo fizeram do projeto um pesadelo. Ryan Reynolds deu vida ao Hal Jordan e, a decepção foi tamanha com o resultado da produção, que o ator demorou 10 anos para assistir ao filme. Ele publicou em suas redes sociais que decidiu entrar na onda da DC, após a estreia do Snyder Cut, e resolveu assistir o longa.

O último título a ser lançado antes da Warner caminhar para seu Universo Estendido foi o terceiro capítulo da trilogia de Nolan. O público chegou aos cinemas com altas expectativas para finalmente assistir um bom filme de super-herói. Infelizmente, para aquelas pessoas que esperavam outra obra-prima, a decepção foi imediata.

Em O Cavaleiro das Trevas Ressurge (2012), Nolan continua a acertar com a sua fórmula pronta para criar bons resultados, mas o filme falta alma. Não existe mais o brilho do seu antecessor e nem as possibilidades instigantes da primeira história. Diante do fim, o que o público recebeu foi um produto que não tem falhas narrativas ou de produção, mas que pode ser facilmente esquecido.

O UNIVERSO ESTENDIDO

No entanto, os fãs dos quadrinhos tiveram pouco tempo para se lamentar pelo fraco encerramento da trilogia do Batman. Em junho de 2013, O Homem de Aço chegou aos cinemas. O novo trabalho de Zack Snyder para a DC inaugurou a narrativa do Universo Estendido. Mas a performance do longa-metragem não deu o melhor início possível para o DCEU.

Apesar de ser um projeto correto e bem elaborado, falta a magia de se assistir um filme deste grande super herói. Falta o arrepio de vislumbrar o primeiro herói das histórias em quadrinhos na telona. E isso foi sentido pela crítica e pelos fãs. Seguindo este começo pouco memorável, os lançamentos de Batman vs Superman: A Origem da Justiça e Esquadrão Suicida, ambos em 2016,  não colaboraram muito para vender o DCEU ao público.

Universo Estendido DC

O confronto entre o Homem-Morcego e o Super Homem foi apresentado ao espectador de uma forma difícil. Batman vs Superman não é um resultado ruim. No entanto, a sua construção extrapola as possibilidades que o filme podia abarcar. Reassistindo a obra, fui capaz de perceber os seus méritos, mas isso só foi possível depois do susto inicial. Snyder descarrega muito conteúdo narrativo e easter eggs para o público a ponto da história ficar confusa e incômoda.

Para a tristeza da Warner, o filme seguinte teve um resultado ainda pior. Esquadrão Suicida é um colcha de retalhos de cores, loucuras e falhas. Talvez este tenha sido um dos projetos mais decepcionantes do DCEU. A adaptação da hq sobre o grupo de vilões foi apresentada como uma grande promessa, mas o que chegou para o espectador foi um resultado grotesco.

A narrativa é desconexa, os personagens são mal aproveitados e o cerne do problema que move a história é fraco demais – sem falar na vilã da Cara Delevingne que é pavorosa. Essa performance decepcionante é resultado das inúmeras refilmagens que o longa passou. A única vitória dessa produção foi a sua bilheteria que, apesar da má qualidade do filme, conseguiu arrecadar quatro vezes mais que seu orçamento.

Para os fãs mais desacreditados, eis que, em 2017, surge a história da famosa amazona. O lançamento de Mulher-Maravilha foi o primeiro sucesso unânime do Universo Estendido. Gal Gadot conquistou o coração do público com a sua performance solo logo nos primeiros minutos como Diana Prince. Através da visão de Patty Jenkins, a DC entregou uma obra completa e de qualidade que conseguiu agradar gregos e troianos.

Após a apresentação dos três principais personagens da DC, o estúdio trouxe o primeiro momento da famosa Liga da Justiça. E aqui reside um dos resultados mais problemáticos da DC/Warner. A produção teve troca de diretores, refilmagens e muitas polêmicas envolvidas. Por conta desse cenário caótico, o resultado deixa muito a desejar. Na verdade, quando analisado de perto, Liga da Justiça (2017) é uma cópia mal feita e incoerente de Vingadores: Era de Ultron (2015) – que, por si só, já é falho o suficiente.

Os quatro filmes que sucederam o crossover dos heróis foram bem recebidos pelos fãs e, de forma geral, bem aceitos pela crítica. O primeiro foi a jornada solo do rei dos oceanos, Arthur Curry. Aquaman (2018) acumulou uma arrecadação absurda, seis vezes maior que seu orçamento – quase 1.15 bilhões de dólares, se tornando a maior arrecadação da DC. E, apesar de ter recebido críticas que afirmavam uma atenção excessiva no visual em detrimento da narrativa, o longa cumpre muito bem a sua função.

Em 2019, chegava aos cinemas Shazam!, uma das aventuras mais brilhantes do estúdio. O longa-metragem é uma adaptação primorosa da hq inicial do herói, além de ter um timing cômico perfeito. Apesar de não ser um dos mais conhecidos da Liga, o filme foi bem aceito pelo público e crítica. Talvez a melhor produção depois do longa estrelado por Gal Gadot.

Em 2020, o espectador teve duas estreias do estúdio. A primeira foi Aves de Rapina: Arlequina e Sua Emancipação Fantabulosa. Um primeiro ponto positivo para a produção é que ela consegue superar as memórias tenebrosas da aparição anterior da Arlequina. O projeto, apesar de cometer alguns deslizes, consegue também cumprir seu papel dentro do universo, da mesma forma que é capaz de contar a história das Aves de Rapina e entreter o público.

Universo Estendido DC

A seguida estreia foi Mulher-Maravilha 1984. Esta penou para ser lançada por conta da pandemia do coronavírus. A sequência só chegou aos cinemas e ao HBO Max no dia 25 de dezembro. Desta vez, a resposta dos espectadores foi um tanto diferente. De forma geral, a crítica aprovou o filme – mesmo com seus pequenos deslizes -, mas os fãs não se mostraram muito satisfeitos. Os maiores comentários negativos rondam o vilão interpretado por Pedro Pascal (Game of Thrones, em 2014,  e The Mandalorian, de 2019 até o presente) e a potência da narrativa. Em comparação com o primeiro filme solo da heroína, sua sequência fica um pouco atrás em qualidade, mas nada que atrapalhe a experiência.

SNYDER CUT, O DIVISOR DE ÁGUAS

Após a segunda narrativa sobre a deusa amazona, o público pôde finalmente assistir ao tão esperado Snyder Cut. Após uma intensa campanha virtual, os fãs conseguiram convencer a Warner a dar o sinal verde para que Zack Snyder voltasse para concluir seu projeto inicial sobre a Liga da Justiça. E, duas semanas após seu lançamento na plataforma HBO Max, é possível perceber que o estúdio fez a escolha certa.

O longa-metragem está sendo um dos assuntos mais comentados nas redes sociais desde que foi lançado. Aqui no Brasil, os colecionadores de mídia física já fizeram campanha e conseguiram tornar real um futuro lançamento em Blu-Ray Disc do Snyder Cut. Mas o que fez o longa gerar tamanha comoção? O fator principal foi a curiosidade. A possibilidade de vislumbrar uma história pensada por Zack Snyder, o qual, apesar de suas excentricidades, se mostrou visionário ao apostar numa perspectiva correta para o DCEU desde o início.

Atrelado a isso, o maior guia foi o desejo dos fãs de finalmente assistir um filme que honrasse o encontro da Liga da Justiça. E o que seria melhor para esta narrativa do que a presença do maior vilão da DC Comics? Saber que Darkseid estaria por trás de todo o caos que os heróis enfrentam, é algo indescritível para quem acompanha as hqs ou desenhos há anos.

Então, a materialização da versão de Snyder da Liga da Justiça já anunciava um possível sucesso. No entanto, o público, que andava muito calejado pelas falhas e fracassos do estúdio, precisou aguardar para ver se o sonho seria realizado ou se viveriam outro pesadelo. Para a felicidade dos fãs, o Snyder Cut é uma obra muito boa. O diretor conseguiu ajeitar as pontas soltas que ele mesmo deixou em Batman vs Superman e mostrou ainda mais.

FUTURO PÓS SNYDER CUT

Na verdade, a versão de Snyder é um prenúncio para um futuro maior que ele havia planejado para o DCEU. O problema é que talvez essa visão não seja mais explorada. Por ter sido um projeto resgatado e pela parceria Snyder/DC Films estar, em teoria, suspensa, os fãs ficam com a dúvida sobre o que acontecerá daqui para frente.

Como já se imaginava, uma campanha nas redes sociais para que o SnyderVerse seja restaurado já começou. A tag “RestoreTheSnyderVerse” já foi usada até por um dos atores do universo. Ator esse cujo papel tem um futuro incerto. Joe Manganiello postou recentemente em seu Instagram uma foto dele caracterizado como Exterminador em sua versão do futuro, mostrada no epílogo do Snyder Cut.

Apesar do clamor dos fãs pela volta de Snyder e da boa recepção do novo Liga da Justiça, nada está certo. Pelo contrário. A presidente e CEO da Warner Bros, Ann Sarnoff, afirmou que não existem planos para trazer Zack de volta ao DCEU. Logo, o que se sabe no momento são os projetos anunciados e encaminhados. O futuro certo da DC/Warner está nas mãos do Flash, Shazam, Aquaman e, por incrível que pareça, do Esquadrão Suicida.

Universo Estendido DC

Os próximos projetos são O Esquadrão Suicida (2021), de James Gunn, Adão Negro (2022), o filme solo do Flash (2022), a sequência do rei dos oceanos, Aquaman 2 (2022), e Shazam! Fury of the Gods (2023). Todos já com datas marcadas, mas poucas informações sobre suas histórias.

Até mesmo o longa de James Gunn ainda guarda seus segredos, apesar da proximidade da estreia. O projeto pretende ser uma sequência da história anterior do grupo de vilões. A aparente diferença é que agora o estúdio parece saber o que está acontecendo. Além do mais, o fato da produção não ter nenhuma polêmica ou problemática envolvida já é uma vitória.

Depois do trabalho de Gunn, o filme que mais se fala sobre – e, consequentemente, se teoriza – é The Flash. As apostas estão numa adaptação do quadrinho Flashpoint, onde o herói resolve voltar no tempo para salvar sua mãe e acaba criando uma realidade alternativa onde as amazonas estão em guerra com os atlantes. O público poderá vislumbrar as possibilidades do multiverso em breve caso esta seja a narrativa a ser lançada.

Além desses projetos, o futuro das adaptações da DC também guardam possibilidades para além do Universo Estendido. O mais novo longa-metragem do Homem-Morcego também será lançado em 2022. De acordo com declarações da Warner, a aventura do Cavaleiro das Trevas não faz parte do DCEU. Outro projeto que não faz parte do Universo Estendido é Coringa (2019), de Todd Phillips.

Essas produções desconectadas se mantêm como uma realidade e, por ora, podem continuar presentes no futuro das adaptações dos quadrinhos. Seja dentro ou fora do DCEU, o que os fãs querem são bons resultados. Filmes que mexam com suas memórias e empolguem seus corações. E enquanto a DC/Warner se mantiver atenta e cuidadosa em suas decisões, os projetos têm tudo para dar certo e prometem bons frutos.