Vidas Passadas

Crítica: Vidas Passadas

4.3

Vidas Passadas é um dos longas que está indicado na categoria de Melhor Filme e Melhor Roteiro Original do Oscar 2024 e que com certeza merece a sua atenção. O drama conta a história de Nora (Greta Lee, Jogo do Dinheiro) e Hae Sung (Teo Yoo, Quando Te Conheci), dois jovens amigos e confidentes que viviam na Coreia do Sul e acabam se separando quando a família da garota resolve imigrar para o Canadá. Acompanhamos várias etapas da vida da protagonista, que está atualmente casada com um americano e acaba tendo que lidar com memórias do passado que ressurgem.

O que mais nos chama a atenção neste filme é que ele é um romance que quebra completamente a lógica do romance tradicional que estamos acostumados. Daqueles em que a sua alma gêmea é arrebatadora e você vai mover o mundo para estar ao lado dela e finalmente viverem um conto de fadas. A vida real é um tanto diferente e é sobre isso que Vidas Passadas se concentra.

Com uma delicadeza impar, a diretora e roteirista Celine Song nos introduz à história completa da vida de Nora e como as coisas evoluíram até o lugar que ela ocupa hoje. Uma garotinha sonhadora que teve boas oportunidades e foi se transformando ao longo dos anos. Isso fica muito claro com a mudança dos sonhos que ela vai tendo com o passar o tempo, se tornando mais realistas e menos inspiradores. Tal qual a nossa vida a medida que entramos na fase adulta.

Do outro lado, Hae Sung um apaixonado rapaz que nunca esqueceu o seu amor de infância e teve uma vida bem tradicional na Coreia. E ele tem expectativas que atendem a esse propósito, enquanto ela abriu asas e saiu voando. Essa dinâmica de vidas opostas que voltam a se cruzar vai sendo costurada com as diferenças principais do estado de cada um, como trabalho, expectativas e realidades.

Vidas Passadas

O mais incrível de Vidas Passadas é nos mostrar as nuances do amor verdadeiro e o amor romântico. O quanto que é possível compreender as facetas da paixão em face da realidade que nos bate à porta. Então por mais que uma pessoa tenha a sensação de ter encontrado a sua alma gêmea (e pode ser isso mesmo), não necessariamente a sua vida estará atrelada a ela, já que existem vários formatos que englobam a vida adulta.

Nora percebe que não casou com o príncipe encantado de conto de fadas e que teve motivações muito práticas que envolveram seu matrimônio. Mas seu marido oferece inúmeras qualidades importantes na vida adulta, como companheirismo, respeito, afeto e parceria. Dentro da realidade deles (que, diga-se de passagem, é muito real), eles são, sim, o casal perfeito, já que encontram perfeição na realidade palpável.

Em dado momento, nos damos conta de que aquele amor puro e verdadeiro que existe entre Nora e Hae Sung é uma construção do passado e que deve ficar lá, como uma memória incrível e distante. Eles falam sobre o conceito oriental de In-Yun, que significa destino, e é completamente incrível. Segundo o conceito, quando duas pessoas cruzam as suas vidas, significa que elas já se cruzaram milhares de vezes antes, em vidas passadas. Então esse elo que os une é muito mais profundo do que eles mesmos podem entender.

A grandeza de Vidas Passadas é nos mostrar que é possível ter vários In-Yun, de diversas formas, sob várias óticas. E que por mais que a sensação de “e se?” possa passar por nossas mentes em algum momento, não significa que não estamos vivendo plenamente e intensamente a vida que escolhemos.

Muito mais do que um romance cheio de ternura, Vidas Passadas é uma reflexão profunda e acolhedora da vida adulta como ela é e das conexões que nos inspiram todos os dias. É um filme que fica com você por um bom tempo, promovendo ótimos questionamentos sobre as nossas próprias vidas. É de uma delicadeza e ternura sensacional!

Direção: Celine Song

Elenco: Greta Lee, Yoo Teo, John Magaro, Seung-ah Moon, Seung-min Leem, Ji-Hye Yun, Choi Won Young

Assista ao trailer!