Crítica: Verão de 84

O foco do mundo cinematográfico está totalmente voltado para Hollywood. São raras as ocasiões nas quais o circuito comercial observa as produções fora desse nicho, em especial se foram independentes. Graças a essa decisão arbitrária das grandes redes de cinemas, o público é quem mais perde nesse contexto. Milhares de longas-metragens são feitos anualmente e não tem a devida atenção que merecem. Produções brasileiras, australianas, indianas, nigerianas e canadenses são, por exemplo, postas de lado para que uma rede exiba em quase todas as salas mais um intragável Transformers (2007 – 2018) ou até mesmo outro fracasso baseado no universo de Horror em Amityville (1979 – 2017).

Alguns (poucos) gêneros dão espaço para produções distantes de Hollywood. O universo do terror é um dos que está tendo um crescimento fora desse circuito comercial e tem tido seu lugar lembrado nos últimos anos. Corrente do Mal (2014), A Bruxa (2016) e Demônio de Neon são algumas produções menores que ganharam destaque – mesmo sem serem exibidos em larga escala. Em 2018, mais uma obra do horror foi lançada com pouca visibilidade. Verão de 84 teve a sua primeira exibição em janeiro, no Festival Sundance de Cinema, e estreou nos Estados Unidos em agosto. Apesar das críticas boas e da qualidade do filme, não houve uma distribuição ampla – estreando no Brasil somente agora em 2019.

O condado de Cape May está em estado de alerta. Mais de dez garotos estão desaparecidos e a polícia confirma a existência de um assassino em série nas redondezas. Davey Armstrong (Graham Verchere) começa a desconfiar que o seu vizinho é o procurado serial killer. Depois de convencer todos a entrarem nessa jornada, Davey e seus amigos irão se aventurar numa caçada por provas que apontem o policial Wayne Mackey (Rich Sommer) como o assassino.

A partir de um subgênero que fez muito sucesso na década de 1990 – com produções como Pânico (1996) e Eu Sei o que Você Fez Verão Passado (1997) – o longa-metragem dirigido pelo trio RKSS (François Simard, Anouk Whissell e Yoann-Karl Whissell) retoma a sutileza dos slashers teen que elevaram os filmes de terror a um novo patamar. Com uma estética única dos anos 1980, Summer of 84’ (título original) evoca essa época e todos os seus elementos icônicos para criar o cenário perfeito do mistério macabro proposto pelos diretores. É mais um mergulho nesse período, como tem feito Stranger Things (2016 – atualmente) e It: A Coisa (2017), mas evocando uma premissa meio Um Olhar do Paraíso (2009).

A narrativa criada por Matt Leslie e Stephen J. Smith é avassaladora. O espectador se vê perdidamente fixado no cotidiano daquele grupo de garotos em poucos minutos. O carisma e as peculiaridades de cada um remetem aos famosos grupos do cinema (Clube dos Cinco e Os Gonnies, ambos de 1985), fazendo com que seja quase impossível deixar a aventura deles de lado. Além da simpatia das personagens, a incerteza que molda a história é o objeto de tensão mais eficaz para levar o público a loucura. Há tempos que não se vê uma obra tão simples e bem lapidada como essa.

Uma produção canadense, Verão de 84 merece atenção de todos os amantes do gênero de terror. Aliás, o filme é capaz de captar um público muito maior do que o seu nicho. O potencial dessa obra é astronômico e precisa ser conhecido. Esse é um dos tantos trabalhos que não podem ficar no anonimato. Se você gosta de tensão, serial killers e mistério, seja bem-vindo a Cape May e seus temores.

Direção: François Simard, Anouk Whissell, Yoann-Karl Whissell
Elenco: Graham Verchere, Judah Lewis, Caleb Emery, Cory Gruter-Andrew, Tiera Skovbye, Rich Sommer, Jason Gray-Stanford

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