Baseado em histórias reais, Unidas pela Esperança conta a trajetória de um coletivo de mulheres casadas com oficiais militares. A partir da ida de seus maridos para o fronte, elas criam um grupo de coral, com intuito de conseguir uma distração para o sentimento de aflição e o temor do que pode acontecer com seus entes queridos. Há uma aparente busca aqui em criar um drama sensível e de certa superação. A primeira característica perceptível é o medo da perda e a perda efetivamente. Isto ronda as personagens durante toda projeção.
No entanto, esta tensão sentida por elas aparece mais em um nervoso constante das mulheres, principalmente Kate (Kristin Scott Thomas, Tomb Raider: A Origem) e Lisa (Sharon Horgan). A dupla comanda o grupo musical, mas possui personalidades bastante distintas, por isso estão sempre em embate. Há uma tentativa de criação da relação das duas e a demonstração das oposições delas. No que é ofertado por ambas não é algo muito além do óbvio. As construções rasas e levemente estereotipadas.
Kate é a engomada, com mania de perfeição. Apesar de existir todo um conflito sobre a morte de seu filho, há apenas uma cena que a humaniza e põe nela um pouco de complexidade, porque Thomas investe em trabalhar as dinâmicas faciais e corporais sempre tesas e a face quase sem revelar sentimentos. Quando finalmente Kristin traz outro tom, que antes estavam monocórdicos, a performance é pouco vista, porque é rápida e já no final da narrativa. Já Lisa não é fã de regras rígidas e prefere a espontaneidade, pelo menos é o que o texto diz. Mas, as suas ações negam seu discurso, e ela também é engomada e está sempre dando ordens, como a Kate. Ainda que isto pudesse ser interessante, Horgan não é muito expressiva e não avança nas possibilidades que poderia explorar com a sua Lisa.
No entanto, talvez, o motivo da falta de criatividade das intérpretes seja do roteiro de Unidas pela Esperança, que não tem possibilidades amplas, é preguiçoso e piegas. Há uma procura insistente em emocionar recorrentemente, porém não há uma criação de estrutura para tal. Quando o longa-metragem se inicia, os problemas já estão postos. Este fator não é necessariamente algo negativo. Contudo, não há espaço para um estabelecimento de empatia com as personagens. Outro detalhe que salta aos olhos é a falta de habilidade para aproveitar os conflitos e desenlaces. Com a exceção da briga final entre Kate e Lisa, os acontecimentos fortes passam rapidamente, como se houvesse uma vontade de que diversos elementos fossem contados, sem deixar os fatos de fora, porém logo descartados.
Por fim, a estrutura de um sistema conservador é exposta, mas não sob forma de crítica e sim de conivência. Em um local no qual os militares comandam as ações e as vidas dessas mulheres, a criação do primeiro coral delas torna-se o mais relevante para obra. As angústias pela exclusão são até levemente mencionadas, mas nunca aprofundadas ou questionadas com mais assertividade. A grande questão disto é que a produção parece datada. Mesmo falando de algo de um passado próximo, o olhar também deixa uma sensação de antiquado.
Apesar destes detalhes, alguns momentos de Unidas pela Esperança são divertidos, como a sequência em que as coralistas treinam a música que cantarão na primeira apresentação ou em seu desfecho, quando são apresentados todos os corais criados na vida real, após o pioneiro, mostrado no enredo, ter começado as atividades musicais, o Coral das Esposas de Militares. Este não é um longa primoroso, é esquecível, mas pode ser visto em uma tarde qualquer, em um tempo livre.
Diretor: Peter Cattaneo
Elenco: Kristin Scott Thomas, Sharon Horgan, Jason Flemyng, Greg Wise, Lara Rossi
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