Crítica: Uma Longa Viagem

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Fantasmas: Colin Firth vive um homem atormentado por traumas da guerra.

 

Uma Longa Viagem é um filme sobre fantasmas. Existe um elemento que a gente não sabe bem como explicar que perambula toda a narrativa e atormenta os seus personagens. Esse teor de “abstração” presente no filme impõe-se como um desafio ao diretor Jonathan Teplitzky. Como transformar estas visões, vozes e memórias da cabeça de um homem atormentado em uma história ritmada e inventiva cinematograficamente? Não é tarefa fácil, mas Teplitzky tem uma sensibilidade que supera os percalços do seu projeto que, ainda que careça de uma solução melhor para lidar com os dois tempos que correm em paralelo no seu filme (o presente e o passado), consegue fazer um trabalho honesto e levemente envolvente.

O longa é baseado nas memórias do britânico Eric Lomax, um homem que esteve na Segunda Guerra e foi torturado por soldados japoneses. Quando o conflito acaba, Lomax leva consigo todas as cicatrizes daquele período, o que torna complicado, por exemplo, seu relacionamento com sua esposa Patti. Inconformada com a situação e visando encontrar uma solução para os problemas de Eric, Patti procura um ex-companheiro de front do esposo para saber o que ele passou nas mãos dos japoneses e o que precisamente ela pode fazer para aliviar a dor do marido.

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Esposa dedicada: Nicole Kidman vive a esposa do protagonista.

 

Jonathan Teplitzky é um diretor com uma estrada relativamente curta, tendo conduzido filmes australianos como Burning Man, com Matthew Goode, ou Paixão e Sedução. Uma Longa Viagem é um filme de temperatura levemente fria, ritmo um pouquinho mais lento e que privilegia os registros de tormento do seu personagem. Em sua maioria, as ações do filme são internas, se passam na cabeça dos sujeitos, no caso, a forma como Eric Lomax administra o seu passado traumático e como ele afeta a sua relação com a esposa Patti no presente. Como já mencionado, trata-se de um desafio para um diretor administrar isso no cinema e Teplitzky se esforça ao encontrar a atmosfera correta para o seu filme através de um trabalho interessante de fotografia.  Contudo, claro que precisaria mais que isso.

Colin Firth interpreta muito bem o protagonista da trama, um homem com severas marcas do passado. O inglês parece o tipo ideal para viver Eric Lomax, personagem cujo conflito central é tentar superar as limitações impostas pela sua natureza introspectiva e traumatizada. Nicole Kidman interpreta de maneira correta o papel da esposa dedicada tentando resgatar o marido da mais profunda melancolia. A parceria entre Kidman e Firth é um dos melhores elementos de Uma Longa Viagem, os dois se entendem em cena e promovem alguns dos melhores momentos de todo o filme. Outro nome do elenco que merece ser citado é Jeremy Irvine, intérprete do personagem de Firth na juventude. Aqui ele apresenta um desempenho que nem nos faz lembrar sua irritante presença em Cavalo de Guerra de Steven Spielberg.

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Cara a cara com o seu algoz: Eric Lomax (Firth) em um acerto de contas com o inimigo.

 

Com suas mais que evidentes limitações, Uma Longa Viagem ao menos consegue ser um filme sincero em seus propósitos. Jonathan Teplitzky fez o melhor que pôde com uma trama repleta de ações internas que dificultam o trabalho de qualquer diretor. No final das contas, graças ao seu interessante e entrosado elenco e à força da trajetória do seu próprio protagonista, o filme triunfa mais do que vacila.

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