Existiu um período em que o público estava acostumado com filmes de comédia onde um ator interpretava mais de um papel, travestido em diferentes estilos e personagens. Destaque aqui para Eddie Murphy, que mantinha este perfil em seus filmes, a exemplo de O Professor Aloprado e Norbit. No entanto, isso tem mais de uma década e os tempos mudaram. A mesma comédia que funcionava lá atrás, já não faz tanto sentido na atualidade. Mesmo assim, Tyler Perry pegou a fórmula e resolveu utilizar mais uma vez.
O filme conta a história de Madea (Tyler Perry). Ela e seus companheiros achavam que estavam indo para uma reunião de família como outra qualquer. Porém, tudo se transforma em um pesadelo quando de repente eles precisam planejar um funeral no meio de sua viagem a Georgia.
É curioso descobrir que este longa faz parte de uma franquia em torno da personagem Madea. Embora o Brasil não tenha participado dos outros filmes e seus lançamentos, os EUA já estão um pouco mais familiarizados com o projeto de Perry. Ele convoca a percepção de uma família negra abastada e os percalços nas relações interpessoais e sociais. Tudo isso com muito humor.
Ou deveria ser o esperado. Um Funeral em Família, no entanto, não é um grande filme de comédia. O público passa mais tempo acompanhando o desenvolvimento da história do que efetivamente dando gargalhadas. Temos alguns momentos bons que são protagonizados pela própria personagem principal (que é o ator Tyler Perry travestido), mas é como se ele fosse a única graça da trama. Os demais personagens não oferecem o elemento humor.
Em dado momento, inclusive, temos um discurso dramático forte sobre como uma mãe abdicou de sua felicidade em prol da segurança e bem-estar dos filhos. É muito comovente, mas ligeiramente sem nexo. É como se o filme não se assumisse 100% na comédia, mas também não dá o espaço devido para o drama. Ele acaba residindo no limbo da falta de personificação.
Embora tenha bons momentos e escolhas acertas, como o elenco 100% composto por atores negros, umas alfinetas aqui e ali sobre o racismo, o roteiro peca por reforçar certos estereótipos. O questionamento que fica é: até que ponto a escolha por se travestir de mulher e idoso para gerar o riso é aceito na sociedade atual? Acredito que caminhamos o suficiente para problematizar isso e ver que não há mais tanto espaço para tal decisão. E que é preciso refletir sobre esse tipo de escolha.
Um Funeral em Família não é um filme ruim, é apenas esquecível. Ele passa na superficialidade de seu tema, que poderia ser tratado de tantas maneiras mais interessantes. Aprofundamento de crítica social, debate sobre racismo, questionamentos sobre a posição da mulher, etc. Tudo isso são fios que surgem ao longo da trama e que são ignorados pela simples escolha do humor sem causa. Um grande desperdício.
Direção: Tyler Perry
Elenco: Tyler Perry, Patrice Lovely, Cassi Davis, Jen Harper, Rome Flynn, Courtney Burrell
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