Ted Bundy: A Confissão Final

Crítica: Ted Bundy: A Confissão Final

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Ted Bundy: A Confissão Final acompanha a série de entrevistas realizada pelo agente do FBI Bill Hagmaier ao serial killer Ted Bundy no final dos anos 1980. A ação fazia parte de um projeto batizado de “perfilação” pelo FBI que tinha como objetivo a coleta de informações e o desenvolvimento de perfis psicológicos de criminosos para assim conseguir solucionar alguns crimes.

Vimos a origem desse procedimento na série Mindhunter da Netflix, que teve alguns episódios dirigidos por David Fincher. Aqui, o método já é cotidiano no FBI e a cineasta Amber Sealey procura concentrar seus esforços na relação estabelecida entre Hagmaier e Bundy. Para isso, a maior parte das ações do filme são localizadas na sala de entrevistas onde Bill Hagmaier e Ted Bundy ficavam frente a frente e trocavam percepções sobre a mente criminosa, mas também sobre questões como paternidade e escolhas de vida.

Dada a temática, é sensível como Sealey faz um filme que evita qualquer sensacionalismo, ao mesmo tempo que consegue dimensionar a mente distorcida de Bundy e a repulsa que ele causa pela sua frieza. O longa evita qualquer hipérboles audiovisuais (grandes trilhas sonoras, firulas com a câmera etc.) e concentra sua atenção nos atores (ações e reações), em suas falas… No melhor momento do filme, por exemplo, a câmera da realizadora enquadra em zoom uma produtora que acompanha a entrevista de Bundy para um religioso. O enfoque do movimento da diretora é a reação dessa personagem às falas do assassino. Esse tipo de sensibilidade e gosto apurado no tratamento do tema é que faz o diferencial em um filme como Ted Bundy: A Confissão Final.

Ted Bundy: A Confissão Final

Luke Kirby (Vidro) tem ótimos momentos como Ted Bundy, mas é preciso destacar a interpretação de Elijah Wood (O Senhor dos Anéis) como o agente do FBI Bill Hagmaier. Antes mesmo do primeiro encontro do seu personagem com Bundy, Wood consegue construir toda a apreensão de Hagmaier com aqueles encontros cara a cara com o assassino. Na medida em que os laços entre Ted e Bill vão se estreitando ao longo dos anos, fica latente a dubiedade dessa relação. O agente fica em uma posição delicada, ao mesmo tempo que quer ver Bundy pagar pelos seus crimes e sente repulsa pela sua figura, em algum nível, também nutre algum tipo bizarro de empatia por aquele homem que acompanhou durante anos. Os sentimentos contraditórios e a instabilidade por nutri-los são dimensionados de maneira muito interessante por Elijah Wood, que em dado momento passa a definir os limites entre uma mente doentia e o mal.

Ted Bundy: A Confissão Final não é um filme de todo fácil de acompanhar. Sealey não acrescenta muito diante de outras incursões que já tivemos na biografia do serial killer – a mais completa, sem dúvida, é a série documental Conversando com um serial killer: Ted Bundy de Joe Berlinger, disponível na Netflix. Inclusive, é interessante chegar ao filme de Amber Sealey depois de uma conferida nesse documentário. O que há de mais original no trabalho da realizadora são as digressões sobre a mente humana que o longa consegue pontualmente fazer nessas conexões que estabelece entre o policial e o assassino, todas elas mediadas pela ótima interpretação de Elijah Wood, que amadureceu consideravelmente em cena se compararmos esse trabalho com nossa lembrança primeira do ator na trilogia O Senhor dos Anéis.

Direção: Amber Sealey

Elenco: Elijah Wood, Luke Kirby, Robert Patrick

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