Meu Álbum de Amores

Crítica: Meu Álbum de Amores

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Encerrando a trilogia de Rafael Gomes formada por 45 dias sem você (2018) e Música para morrer de amor (2019) (é batizada de trilogia Corações Sentimentais), Meu Álbum de Amores segue os passos dos demais longas do diretor. No centro do drama está os enlaces amorosos de jovens protagonistas influenciados sobretudo pela música, um elemento predominante no filme através das canções e dos números musicais de um cantor brega dos anos 70 criado pela obra, Odilon Ricardo, vivido pelo ator Gabriel Leone.

Meu Álbum de Amores é um musical com composições de Arnaldo Antunes e Odair José, uma parceria que consegue se apropriar muito bem do gênero com canções que parecem saídas dos anos 1970 e que também servem aos temas da jornada do protagonista, o dentista Júlio, vivido também por Leone. O personagem está no meio de uma fossa amorosa pois acaba de romper com a namorada por quem é muito apaixonado e acaba descobrindo que é um filho “perdido” do famoso cantor Odilon Ricardo através de um irmão que também desconhecia a filiação. Enquanto vai descobrindo sua origem conversando com antigos amores do pai, revivendo suas canções em karaokês e assistindo a suas entrevistas antigas no YouTube, o rapaz tenta ajustar os problemas do seu relacionamento com a ex, esquecendo de vez esse amor ou partindo para outra história.

Meu Álbum de Amores é um filme bastante simpático, flertando com um gênero e elementos do pop que infelizmente ainda são pouco explorados no cinema brasileiro. Gabriel Leone é um protagonista que segura as pontas do longa mesmo quando, por vezes, a história parece andar em círculos com os problemas amorosos do seu personagem. A parceria que o ator tem com Felipe Frazão, que interpreta o seu irmão, é especialmente interessante em uma relação que gradualmente ganha cumplicidade fraternal na tela.

Meu Álbum de Amores

O longa de Rafael Gomes consegue articular muito bem a comédia romântica e a vocação passional do seu protagonista com o contexto musical dos anos de 1970, o fio condutor da história. O roteiro procurar tornar a trama bem amarrada, conferindo uma abordagem linear para o arco de transformação do seu protagonista e procurando sempre justificar cada uma das eventuais questões da sua história. É interessante como o filme dialoga o amadurecimento emocional de Júlio (Leone) não apenas com os números musicais do cantor fictício Odilon Ricardo como também com um certo inventário sentimental do rapaz com a namorada interpretada por Carla Salle, que, ocasionalmente, lhe aparece em um cenário repleto de recordações do casal. O longa de Gomes tem esse mérito de se esforçar para conferir uma condução original às convenções que procura abarcar com sua jornada amorosa de identificação universal.

Não há um enlace fundamental (ou, pelo menos, mais elaborado) para o drama principal do filme, a fossa de amor do protagonista vivido por Gabriel Leone. Como convém ao gênero, lá pelo final do longa, ele enfim consegue conversar com a ex e, depois de tentar preencher a sua falta com relações fugazes e mergulhar na música brega do seu pai, o dentista Júlio consegue seguir em frente. Falta ao longa picos emocionais ou viradas mais drásticas que surpreendam o espectador com alguns desenlaces e mantenham seu interesse pela história. Em dado ponto, a trama fica morna e repetitiva, parece não sair do lugar. No entanto, de maneira geral, Meu Álbum de Amores satisfaz e conquista o público. Em sua defesa, o filme tem a seu favor um ator protagonista carismático mesmo quando seu personagem tinha tudo para não ser e uma vocação pop que ainda falta no nosso cinema (precisamos de mais musicais!), resgatando pontualmente o interesse do público pelos desenlaces amorosos que movem a trama quando o roteiro parece não favorecer muito a experiência do espectador.

Direção: Rafael Gomes

Elenco: Gabriel Leone, Carla Salle, Felipe Frazão, Olívia Torres, Maria Luisa Mendonça, Laila Garin

Assista ao trailer!