Spencer chega aos cinemas como mais uma produção contando a história da Princesa Diana, figura tão explorada no entretenimento e cuja trajetória inspira tantas criações cinematográficas. Neste longa, o foco é 100% na protagonista, que passeia praticamente sozinha pelo roteiro, com poucas participações de outros personagens, que não chegam nem a ser inseridos na percepção de coadjuvantes. Como o próprio nome do longa já sugere (Spencer era o sobrenome de solteira de Diana), a sua narrativa é muito mais importante do que qualquer outro viés.
Com os filhos já maiores, o filme se inicia no que seria um Natal muito conturbado na família real, que tinha dificuldades com a presença e o temperamento de Lady Di. Depressiva e sufocada pela práticas e regras dos Windsor, Diana procrastina sua chegada ao local, prevendo toda a afetação emocional que virá a ter. Ela anseia pela presença dos filhos, mas sabe que isso não será envolto na naturalidade do convívio e que ela terá que ter limites na convivência.
Logo de cara lidamos com uma grande problemática que afeta o seu emocional. A tradição de pesagem antes do feriado de Natal, em que eles anotam o peso da pessoa e ela tem que engordar 1,5kg no retorno, para mostrar que ficou feliz com as refeições. Diana era conhecidamente bulímica e a tradição era destruidora para ela. A medida que o roteiro avança, vemos o quanto a protagonista vai sendo engolida por suas emoções entaladas, pela tentativa de revolta e pelo grito que ninguém ouve. É curioso ver como o enredo mostra que ela é tocada apenas pelos filhos e pela camareira de confiança. Como se ela fosse nociva aos demais.
Tendo um certo cuidado de sempre afirmar que a família não é de toda ruim, a narrativa vai afundando o psicológico de Diana, que começa a ter delírios, visagens e pequenos surtos. É algo arriscado a se fazer, já que a figura de Lady Di sempre foi muito bem-quista pelo público e ainda é até hoje. No entanto, o diretor Pablo Larraín (Jackie) consegue ficar exatamente em cima do limite, sem nunca ultrapassá-lo.
Chegamos aqui no ponto em que é importante ressaltar o empenho e dedicação de Kristen Stewart (Para Sempre Alice) para a personagem. Ela estudou todos os trejeitos conhecidos de Diana, sua forma de andar, se portar, falar. Além disso, ela se despe de todo aquele perfil que, por vezes, vemos em outros filmes e se mostra uma atriz de real qualidade ao aprofundar o terror psicológico a que a protagonista é submetida. Não é à toa que ela vem sendo cogitada para concorrer ao Oscar de Melhor Atriz deste ano, o que considero muito adequado. Até porque, conforme falei anteriormente, o filme é praticamente apenas Stewart, o tempo inteiro. E não é qualquer atriz que consegue sustentar um longa desta forma.
Spencer é um filme profundo e que traz uma outra percepção emocional da história da famosa Princesa Diana. Com seu ritmo mais lento, ele vai envolvendo o espectador numa trama dolorosa e psicológica que nos faz refletir sobre o quanto a fama e o poder podem ser nocivos para uma pessoa e que não necessariamente colocamos isso no lugar de devida importância. Um filme ótimo com uma atuação excelente!
Direção: Pablo Larraín
Elenco: Kristen Stewart, Timothy Spall, Jack Nielen, Freddie Spry, Jack Farthing, Sean Harris
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