Shiva Baby

Crítica: Shiva Baby

3.5

A partir de um curta de mesmo título lançado em 2018, a diretora e roteirista Emma Seligman criou Shiva Baby, longa que narra as agruras de uma jovem judia durante um funeral com a presença da sua comunidade religiosa, o tradicional shiva. Na situação, a protagonista reencontra uma namorada de adolescência, além do seu “sugar daddy”, que aparece na situação com a esposa e o filho bebê. É então que o evento se transforma em uma experiência sufocante para a protagonista e para o espectador. Ambos ficam sempre na expectativa de que algo muito ruim acontecerá, um “caldeirão borbulhante prestes a explodir”. Como se não bastasse, a personagem do filme vivencia o terror de todo jovem adulto em eventos sociais familiares, cobranças sobre sua aparência, comportamento, status profissional, estado civil etc.

O longa de Seligman é marcado por uma interessante dosagem de humor. Ao mesmo tempo que Shiva Baby é uma comédia de situação, ambientada em um único cenário, a casa onde se passa o shiva, com os personagens alternando suas interações com a protagonista enquanto ela perambula por aquele ambiente, a obra de Seligman tem ares de filme de horror quando dá corpo e sons aos temores de qualquer jovem adulto. A sensação de sufocamento é uma crescente nesse longa que estranhamente também é uma comédia. O “barato” de Shiva Baby é como a sua diretora faz uma combinação sedutora entre os gêneros e transforma seu longa numa peça cinematográfica única.

Com Shiva Baby, Seligman fala dos efeitos  da pressão de ser uma “boa garota judia”, revelando uma comunidade que, por mais aberta que aparenta ser, apresenta resquícios resistentes de um conservadorismo, não lidando muito bem ainda com tópicos como infidelidade, bissexualidade ou liberdade sexual, sobretudo quando o sujeito em questão é uma mulher. O resultado é que a protagonista Danielle lida com julgamentos velados, mas outros também muito explícitos, ainda que seus portadores não se deem conta de emiti-los. Tudo é muito pior do que um confronto direto ou conscientemente agressivo.

Shiva Baby

Seligman se vale de um grupo de atores muito competentes. Todos conseguem equilibrar os humores  do projeto com a densidade que ele confere a suas personagens. Um dos feitos disso é que os atores do elenco lidam muito bem com diálogos rápidos e, por vezes, difíceis de acompanhar do roteiro. Todos sabem aproveitar cada palavra e gesto escritos por Seligman na investigação dos desejos daqueles indivíduos, todos reprimidos pela situação social representada.

Shiva Baby retrata muito bem os dilemas de uma geração de mulheres com tradições herdadas de suas raízes familiares. Personagens como Danielle ou Maya, a ex-namorada da protagonista, não têm as mesmas liberdades que os homens da sua comunidade. Basta ver a tolerância que o grupo tem com as escolhas de Max, “sugar daddy” da personagem principal.

Realizando uma comédia que flerta com outros gêneros, soando algumas vezes como uma espécie de Corra!  ou As Esposas de Stepford tematizando a comunidade judaica novaiorquina, Shiva Baby capta o teor claustrofóbico que o controle social exerce sobre sua protagonista. É uma estreia muito promissora de Emma Seligman em longas.

Direção: Emma Seligman

Elenco: Rachel Sennott, Molly Gordon, Dianna Agron, Fred Melamed, Polly Draper, Jackie Hoffman

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