Crítica: Sete Homens e um Destino

Hollywood já captou as demandas da sua atual geração de consumidores. Já não dá mais para se apoiar em antigos modelos de narrativa e construção de personagens que relegam ao plano secundário determinados grupos que antes eram tratados tropegamente por suas produções. Ainda que estejamos longe de desconstruir determinados estragos simbólicos que certas construções fizeram na formação de gerações passadas e alguns estratos sociais ainda sejam tabus (os transgêneros, por exemplo), grandes produções como Mad Max: Estrada da Fúria, Star Wars: O Despertar da ForçaCaça-Fantasmas e, futuramente, Mulher-Maravilha, conforme sublinha o seu primeiro trailer, são títulos que contemplam como protagonistas personagens que há um tempo atrás não teriam tanto tempo na tela, fazendo com que suas presenças na trama sejam uma pertinente crítica a modelos de representação da antiga Hollywood.

Claro que esta nova perspectiva tem relação com as atuais demandas do mercado vinculadas às palavras de ordem do momento, o “empoderamento” e a “representatividade”,  não sejamos inocentes. Claro também que parte desse ímpeto não é novo e, em outras ocasiões, minorias foram contempladas (o próprio Sete Homens e um Destino de 1960 é prova disso), mas não com o protagonismo simbólico que elas vêm assumindo nessas fitas que outrora eram representantes do machismo, xenofobia e toda sorte de preconceito dos seus próprios consumidores médios. Fora isso, não interessa se partidariamente você é de direita ou esquerda, representatividade importa e é positivo que as grandes produções, aquelas que são consumidas por muitas pessoas, estejam atentas e alertas sobre tais questões, afinal, elas serão referências para as futuras gerações

O remake de Sete Homens e um Destino, que, vale sempre frisar, já era um remake de Os Sete Samurais de Akira Kurosawa, surge nessa leva. No seu grupo de justiceiros temos um negro (Denzel Washington, excelente), um irlandês, um índio, um mexicano, um oriental e, por tabela, uma mulher. Todos representantes de estratos que passaram por maus bocados nas mãos do homem branco endinheirado. O grupo chega aqui para cumprir a meta de fazer o seu algoz pagar por anos de humilhação sofridos na construção da América.

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No final das contas, o novo Sete Homens e um Destino trata de fazer uma reparação histórica. Pela via da representatividade que o filme consegue se destacar e passar longe do estigma de que os remakes são sempre peças vazias de originalidade, propósito e atualização da sua própria história, ou seja, mera reprodução ou simplesmente uma grande mancha no legado e no espírito do seu original. Sete Homens e um Destino consegue ter respeito com os filmes de John Sturges e Akira Kurosawa, mas também encontra seu próprio caminho e não é excessivamente subserviente com o material de origem, realizando as alterações que entende serem necessárias e firmando com muito respeito ao público e aos fãs dos antecessores os seus próprios termos.

A premissa do filme se mantém. Um grupo de pistoleiros se reúne para defender um povoado que anda sendo vítima da exploração e dos mandos e desmandos de homens violentos, aqui, comandados por um frio usurpador de terras, interpretado pelo sempre interessante Peter Sarsgaard (de filmes como A orfã e Educação). Diferente do americano de 1960, a versão do diretor Antoine Fuqua (de Dia de Treinamento e Nocaute) não tem como vítima um vilarejo de mexicanos, mas uma comunidade qualquer americana que tem como principal empreendedora da busca por justiça a obstinada viúva Emma Cullen (Haley Bennett). A composição do grupo dos sete justiceiros também é alterada e novos personagens são apresentados nessa versão, o que é bem positivo, por sinal.

Como western, Sete Homens e um Destino mostra-se formalmente aplicado. Fuqua preserva as convenções do gênero com as angulações dos seus planos, a lógica e a composição dos planos e contra planos,  os seus jogos de luzes, a sua decupagem e a encenação das suas cenas de ação. Contudo, como já sinalizado linhas atrás, o grande achado da nova versão desta história é toda a sua construção simbólica no entorno desse intuito de reparação, que fica ainda mais claro no destino do vilão do longa.

Mesmo que Quentin Tarantino já tenha realizado isso em um western com Django Livre, por exemplo, continua sendo Tarantino, ele é pop, mas não é do “paladar” de todo o público médio que vai ao cinema. Além disso, cá para nós, o filme de 2012 do cultuado diretor tinha um prolongamento desnecessário da sua trama. Sete Homens e um Destino realiza os mesmos propósitos  de maneira igualmente enfática, porém mais simples, acessível a outras plateias e sem as fortes tintas da marca do diretor-autor. É a reparação histórica à serviço do cinema comercial, do blockbuster médio hollywoodiano, envolto pela embalagem de um delicioso entretenimento. Isso é bastante poderoso.

Assista ao trailer do filme: