Se a Rua Beale Falasse chega aos cinemas nesta quinta-feira, dia 07 de fevereiro, com três indicações ao Oscar 2019 – Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Atriz Coadjuvante (Regina King) e Melhor Trilha Sonora Original. Com um resultado cuidadoso e profundo de questões sociais e emocionais, logo o espectador sente falta da indicação merecida de Melhor Filme.
O longa, baseado no romance de James Baldwin, conta a história de Tish, uma jovem negra que descobre que está grávida do namorado que acabou de ser preso. Junto com a sua família e a dele, ela luta para provar a inocência do rapaz, que foi incriminado injustamente.
Se a Rua Beale Falasse é, antes de qualquer coisa, uma história de amor. Amor não apenas aquele romântico entre um casal – embora tenhamos muito disso – mas amor nas relações, sejam elas de amizade ou de família. Toda essa percepção traz uma conotação muito mais suave na pesada temática de racismo que é inserida pela trama.
O diretor Barry Jenkins foi o responsável por Moonlight: Sob a Luz do Luar, que em 2017 foi indicado a diversos prêmios e ganhou três estatuetas no Oscar – Melhor Filme, Melhor Roteiro Adaptado e Melhor Ator Coadjuvante (Mahershala Ali). Trazendo mais uma vez a temática do racismo para suas produções, Jenkins consegue apresentar um trabalho ainda superior ao seu antecessor.
Se em Moonlight: Sob a Luz do Luar o espectador já conseguia se envolver com a história e com os personagens, em Se a Rua Beale Falasse é como se você fizesse parte da trama. A capacidade notável de cada cena em passar a emoção que está sendo vivenciada, a angústia, o amor, o desespero, traz o espectador ainda mais para perto da narrativa.
Com um excelente roteiro como plano de fundo, a junção com a fotografia e figurino torna a experiência muito mais palpável. Somos apresentados ao estilo da época de maneira contundente, o que ajuda a definir a personalidade dos personagens, muito além de suas posições sociais. O filme faz questão de mostrar que aquele discurso de preconceito de que “a pessoa estava mal vestida” não tem espaço nesta discussão, que é muito mais profunda e acertada.
Para coroar essa combinação visual, temos uma das melhores trilhas sonoras dentre os indicados ao Oscar deste ano. O jazz que surge em muitos momentos marca não apenas as fases dos personagens, como suas emoções. O espectador vai sendo guiado de maneira muito sincera e sem exageros por todas as sensações que são experienciadas pelos personagens. E este fator é determinante no envolvimento que citei anteriormente.
Jenkins brinca com a câmera completamente ao seu favor. Embora alguns atores não tenham tanto tempo em tela para mostrar seu trabalho, o diretor faz um uso tão acertado dos enquadramentos que temos presentes como a atuação de Regina King. Ela surge em pouco tempo de trama, mas o suficiente para lhe render a indicação ao Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante. Fica, inclusive, um gosto de quero mais que infelizmente não foi suprido.
Dos protagonistas KiKi Layne e Stephan James, presenciamos uma química indiscutível. Os dois conseguem criar exatamente a dinâmica necessária para criar a empatia do público, que sente a dor e o amor que flui entra ambos. O elenco coadjuvante também não deixa por menos, com destaque para a irmã vivida por Teyonah Parris e Colman Domingo, no papel do pai. Os dois também sofrem do problema de pouco tempo em tela.
A escolha de trazer como foco na trama o drama pessoal e a questão social envolvida foi mais que acertada. Não é pertinente, naquele contexto, entender os rumos policiais da história. O espectador quer entender o que aquilo pode repercutir naquela família e naquele casal.
Em Se a Rua Beale Falasse, Jenkins nos apresenta um trabalho ainda mais lapidado e envolvente que Moonlight: Sob a Luz do Luar. A crítica social envolta na poesia de um romance e sua ótima trilha sonora faz o espectador se envolver emocionalmente com os personagens, tanto quanto o faz refletir sobre o racismo nos tempos atuais.
Assista ao trailer!