Crítica: Robin Hood – A Origem

Os sujeitos são outros, mas na essência, o Robin Hood que o público assiste em 2018 nas telas é bem parecido com a versão de 2010 dirigida por Ridley Scott e protagonizada por Russell Crowe e Cate Blanchett. A ideia é “modernizar” o mito do herói que na Inglaterra do século XII roubava dos ricos para distribuir aos pobres. O pensamento dos produtores, à semelhança do filme de 2010 de Scott, é tentar trazer uma roupagem mais contemporânea para a adaptação, na equivocada percepção de que o público atual não compraria uma aventura ingênua e medieval como é Robin Hood em sua origem.

Numa completa falta de visão criativa e até mesmo numa ausência de tino comercial, já que essa costuma ser a “língua” dos grandes estúdios, temos um Robin Hood mais jovem na encarnação de Taron Egerton (estrela de Kingsman), com elementos contemporâneos aqui e ali, costurando uma série de expedientes vistos no nicho comercial do momento em termos de blockbuster, o filme de super-heróis. O resultado é um filme ausente de alma, criativamente guiado por executivos que nada entendem de narrativa e sequer do seu próprio negócio, já que, certamente, ganhariam mais caso ofertassem para seu público um ponto fora da curva, um produto mais diversificado para seu público, que, poderia ser, simplesmente, uma visão old school da própria lenda que adapta.

Robin Hood é completamente picotado. Alicerçado em inspirações de versões de super-heróis para outras mídias como o Batman de Christopher Nolan e o Arqueiro Verde da série Arrow, que por sua vez já tem inspiração em Robin Hood nos quadrinhos e também “bebe” da fonte do Homem-Morcego, ou seja, uma verdadeira boneca russa de referências, sendo, no fim das contas, um longa ausente de personalidade e vibração.

No final das contas, trata-se de um produto escancaradamente comercial que não se esforça o mínimo possível para surpreender o público ou mesmo para ser um pioneiro entre as produções eminentemente comerciais, lançando outras tendências, percebendo que, em certas circunstâncias, o retorno financeiro vem do arrojo criativo. O filme quer seguir fórmulas que deram certo em outros ambientes, cinema, TV, quadrinhos e o faz de maneira extremamente fria e artificial. Pior, acredita que isso é o suficiente. Na verdade, ambiciona muito pouco e segue um protocolo. Nem mais, nem menos, a burocracia das decisões de uma mesa executiva e seu olhar torto e pequeno para a indústria. É isso que se vê em Robin Hood. Em suma, o filme olha para todos os cantos, menos para o próprio Robin Hood. E como faz tempo que nenhum realizador encarou o personagem com a devida atenção que merece, reverenciando o tom ingênuo da aventura medieval, mais do que bem-vindo em tempos de homogeneização das suas adaptações.

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