É admirável a forma como esse prequel da franquia Planeta dos Macacos vem sendo conduzido. Em seu segundo capítulo, a série cinematográfica reúne elementos , além dos efeitos especiais de última linha, que deveriam ser essenciais aos blockbusters e que os transformam em verdadeiro entretenimento (sim, porque entretenimento, na raiz de sua definição, não deveria ser equivalente a um produto desleixado em seu tratamento como narrativa, como fazem uns e outros diretores por ai): ritmo, um roteiro inteligente e bem costurado e personagens defendidos com segurança e sensibilidade pelo seu elenco. Planeta dos Macacos – O Confronto, como o seu capítulo anterior Planeta dos Macacos – A Origem, preenche todos esses requisitos com larga folga.
O Confronto se passa quinze anos após os eventos do último longa e traz César e os outros símios bem longe dos humanos, vivendo em harmonia e comunidade no meio da floresta de São Francisco. Estranhando a ausência de contato com humanos durante anos, César e seu grupo nem suspeitam que parte da raça foi dizimada pela “gripe símia”, fruto dos experimentos realizados pelos cientistas com os macacos no filme anterior. No entanto, um grupo de sobreviventes da região tenta entrar em contato com outros humanos mas não consegue pois não tem energia elétrica que faça funcionar os aparelhos de comunicação. A única forma de saírem do isolamento é reativarem uma antiga usina localizada na proximidade da aldeia que César e seus companheiros construíram. Novamente, macacos e homens se reencontram e as divergências e proximidades entre as espécies surgem para moderar uma potencial guerra entre os dois grupos.
O diretor Rupert Wyatt, que comandou Planeta dos Macacos – A Origem, cede espaço para Matt Reeves (de Cloverfield – Monstro e do remake Deixe-me Entrar). Em termos de identidade, a franquia não perde absolutamente nada. As características centrais da trama são mantidas. A atmosfera, no entanto, é completamente diferente, o que é bem coerente com o estágio da história. Em Planeta dos Macacos – O Confronto há um tom de realismo na forma como os personagens encaram uns aos outros e um ligeiro pessimismo no futuro das relações entre seres de espécies diferentes e até mesmo entre seres da mesma espécie, o que faz o filme dialogar com muita veemência com o quadro geopolítico atual.
Novamente, Planeta dos Macacos é exemplar para os filmes da temporada pela forma como maneja tecnologia de última ponta e domínio narrativo. O desenvolvimento dos macacos pela equipe de efeitos visuais, aliado a captura de performances in loco valoriza o trabalho não só da equipe técnica mas também de atores como Andy Serkis (o César, que após anos sendo reconhecido por isso finalmente consegue ser o primeiro nome na lista do elenco nos créditos do filme), Judy Greer (Cornélia), Toby Kebbell (Koba) e Nick Thurtson (Olhos Azuis), todos, inclusive, têm mais destaque que o elenco humano formado por ótimos atores como Jason Clarke, Keri Russell, Gary Oldman e Kodi Smit-McPhee. Além disso, Matt Reeves mantém a trama em ascendência e instiga o interesse do espectador pelos personagens e por seus destinos do início ao fim, dando conta de sequências muito bem executadas (a cena da caçada dos símios na abertura é exemplar). Tudo isso sem querer parecer “intelectualoide” com reflexões impertinentes e extensas demais ou oco ao se tornar refém das suas cenas de ação, como muitos de seus colegas que se aventuram nessa temporada de férias do cinema norte-americano fazem. Pelo contrário, tudo é muito bem dosado, equilibrado em Planeta dos Macacos – O Confronto.
Ao ter completo domínio e timing do quanto deve fornecer de espetáculo visual e do quanto deve fazer o espectador refletir sobre a sua própria condição enquanto ser social e espécie humana – sim, porque, em sua essência Planeta dos Macacos é uma alegoria disso – , Planeta dos Macacos – O Confronto é mais uma contribuição referencial para a indústria do entretenimento cinematográfico dos EUA atual, que em alguns momentos é tão carente de lampejos como esse. O filme nos lembra que, para divertir, uma obra não precisa ser vazia de histórias, sentimentos e discussões e de que para ser “arte” não precisa ser excessivamente técnico ou se despir de qualquer simplicidade. Basta encontrar a dose certa para cada elemento.