Conhecida por apresentar programas de TV e fazer novelas na emissora SBT, a artista Maísa estrela seu primeiro filme, após assinar contrato com a Netflix. Cheio de cores e música, Pai em Dobro aposta no carisma da protagonista e é uma comédia leve e divertida. Apesar de alguns tropeços, como algumas piadas forçadas e mudanças repentinas de decisões das personagens, o longa-metragem faz algumas apostas narrativas criativas, deixando seu desfecho mais corajoso e eficaz.
Com uma premissa que remete imediatamente ao musical Mamma Mia!, a trama fala sobre descoberta da paternidade, como caminho para o autoconhecimento. Incialmente, o público conhece de cara o contexto de Vicenza (Maísa) e da vila de hippies onde mora com sua mãe. O espectador também sabe de pronto de seu sonho de conhecer seu pai e acompanha sua fuga para o Rio de Janeiro. Ao chegar na cidade, a garota acaba descobrindo que existem duas possibilidades de figura paterna. Procurando solucionar este mistério, Vicenza tenta conviver com ambos, com o pintor, Paco (Eduardo Moscovis) e empresário da bolsa de valores, Giovanne (Marcelo Médici).
Neste caminho, a obra acerta ao conseguir dar atenção aos dois rumos do enredo e as relações entre Vicenza com os supostos pais ganham até certa progressão, trazendo as respostas para as dúvidas da menina aos poucos. Além disso, há uma terceira camada explorada, que é a de Vicenza com os novos amigos que faz no Rio. Desta maneira, existe um tanto de complexidade na elaboração de sua personalidade e uma sensação de aproximação com a mesma, pois diversos aspectos de sua forma de pensar, lidar com problemas e soluções, se alimentar e o olhar para o próximo acabam sendo evocados. Talvez, este seja o ponto mais alto aqui.
No entanto, alguns elementos incômodos saltam aos olhos de Pai em Dobro, a começar pelo texto. Buscando um aparente tom “cool” e jovial ou engraçado, as frases soam artificiais e forçadas. Um exemplo é a constante repetição do nome completo de Vicenza, que se na primeira vez não provoca risos, na quarta para quinta já irrita. Além disso, os diálogos são um tanto expositivos, em alguns momentos, ou aparecem em rompantes não justificados. Esta característica está mais forte na figura de Betina (Rayana Diniz), neta do dono da casa onde Vicenza está hospedada. Ela surge repentinamente no meio das conversas e chega para anunciar problemas inesperados. Poderia ser uma boa quebra. Contudo, não há uma costura que sustente estes arrebatamentos dela.
Neste caminho do artificial, existem dois outros pontos que afastam quem assiste de sentir uma imersão na história: a forte saturação utilizada e o figurino do núcleo hippie. Na questão das temperaturas, nota-se a tentativa de ser alegre, colorido e jovem, através de um uso de cores bastante intensas, beirando ao exagero. Já os trajes supostamente alternativos, nitidamente saíram de uma loja de shopping, daquelas que simulam um ar underground. A obviedade deste fato vem das texturas e cortes dos tecidos. Assim, estas estratégias acabam sendo desnecessárias ou mal acabadas. A reafirmação constante de juventude soa velha e desgastada. A pretensa naturalidade das vestes têm o efeito oposto. A grande questão em todo longa é que as reiterações são fortes e retiram o foco principal: as descobertas e experiências de Vicenza com a nova família que ela está criando.
Ainda assim, no geral, Pai em Dobro possui um resultado mediano e pode ser uma opção para um final de semana de descanso. Há, sem dúvidas, uma boa dinâmica do elenco, que consegue quebrar certas tolices escritas no roteiro e procurando evocar verdade no que estão dizendo. Esta afinação dos atores acaba por barrar um pouco do ambiente forçado e caricato presentes em partes da produção.
Direção: Cris D’Amato
Elenco: Maisa Silva, Eduardo Moscovis, Marcelo Médici, Pedro Ottoni, Fafá de Belém, Roberto Bonfim, Thaynara Og, Laila Zaid
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