A explosão da gastronomia nos últimos anos motiva os mecanismos da crítica social desenvolvida em O Menu. O filme de Mark Mylod (de alguns episódios de séries como Game of Thrones e Succession) traz um grupo de convidados de um renomado chef interpretado por Ralph Fiennes para degustar um cardápio exclusivo preparado por ele em um restaurante cuja cozinha administra e está localizado em uma ilha particular. Na lista, onze convidados: um jovem apaixonado por gastronomia e sua namorada, uma crítica gastronômica e seu editor, um casal de ricaços em crise matrimonial, um astro de Hollywood decadente e sua namorada e um grupo de três sócios de uma grande empresa. Ao longo da degustação, os convidados percebem que foram atraídos por uma armadilha do chef.
O Menu é movido por um humor ácido e cerca o grupo de visitantes da ilha com um estado de apreensão deixado pelo personagem de Ralph Fiennes. A partir dos primeiros sinais de que aquela não é uma degustação comum e de que todos estão na mira de um chef psicótico, os personagens do filme passam a antever como tudo aquilo tende a piorar e resultar em tragédia. O chef Slowik ultrapassa fronteiras e vai em uma escalada surpreendente de sadismo que colabora com o crescente suspense do longa.
A crítica do filme é localizada e evidente. Através do grupo de vítimas selecionadas por Slowik – críticos, a alta sociedade, celebridades e entusiastas alienados da alta gastronomia – , o longa fala sobre o estado das coisas na área. Em tempos de hype midiático dos chefs de cozinha, O Menu escancara o caráter utilitarista da gastronomia, evidenciando como o ramo da alimentação entrou na arena da luta de classes: a prevalência de conceitos em prejuízo do paladar, o uso de termos pomposos para a descrição de sabores, o status social que a gastronomia confere àqueles que performam sua apreciação etc.
No final das contas, o objetivo da prática acaba sendo esvaziado no meio de tanta pompa. Como o próprio desfecho da personagem de Anya Taylor-Joy denuncia, a relação entre clientes e chefs deveria ser baseada em dinâmicas muito simples, o prazer de comer algo bem-feito e que agrada espontaneamente um paladar e a retribuição pecuniária por esse trabalho bem executado na cozinha.
A maneira certeira como o filme analisa os principais problemas em torno do seu tema e como apresenta personagens interessantíssimos, do chef psicologicamente destruído, mas obstinado em seus objetivos interpretado por Ralph Fiennes à deslocada convidada vivida por Anya-Taylor Joy, passando pelo egocêntrico e obcecado fã representado por Nicholas Hoult e a crítica prolixa de Janet McTeer, todos têm um grande momento no filme. O Menu é um filme de elenco, mas que apresenta direção e roteiro maduros no desenvolvimento da sua crítica.
Direção: Mark Mylod
Elenco: Ralph Fiennes, Anya Taylor-Joy, Nicholas Hoult, Hong Chau, Janet McTeer, Reed Birney, Judith Light, Paul Adelstein
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