Temos vivido um momento do gênero horror marcado por uma alta produtividade ou, pelo menos, de um destaque maior dos seus títulos. O Brasil não escapa desse momento com títulos importantes nos últimos anos, como As Boas Maneiras, de Juliana Rojas e Marco Dutra, A Sombra do Pai, de Gabriela Amaral Almeida, e Morto não fala, de Dennison Ramalho.
Andrucha Waddington (Sob Pressão) e Fernanda Torres (A Mulher Invisível) embarcaram na primeira empreitada pelo gênero com O Juízo, ele na direção e ela no roteiro. Surpreendentemente, o resultado do filme é marcado por algumas irregularidades que prejudicam de maneira severa a obra, pelo ponto de vista da construção da sua trama.
O longa conta a história de um homem (Felipe Camargo, O Rastro) que muda-se com sua esposa (Carol Castro, Um Suburbano Sortudo) e filho (Joaquim Torres Waddington) para uma propriedade rural herdada. Lá ele se depara com o “passado maldito” dos seus antepassados, que volta para lhe atormentar.
Felipe Camargo protagoniza a história ao lado de Carol Castro, mas há coadjuvantes de luxo no longa, como Fernanda Montenegro (A Vida Invisível) e Lima Duarte (Colegas). Todo o elenco está muito bem no filme e faz aquilo que seus personagens demandam, conferindo autenticidade aos sentimentos das suas personagens e ao desenvolvimento deles ao longo da história. Vale destacar a participação de Criolo (Jonas) no projeto, com uma interpretação muito marcante e objetiva. O problema do título, definitivamente, não está nesse departamento.
Waddington consegue conferir uma atmosfera soturna em O Juízo, que encontra eco no isolamento social desses personagens. Tudo nessa ambiência rural mitológica brasileira representada por esse casarão de passado escravocrata. Ele manifesta-se de maneira sobrenatural para cobrar a dívida dos seus personagens brancos. O problema é que o roteiro escrito por Torres anda em círculos, “cozinhando” o espectador até oferecer aquilo que de fato interessa a história. Ao mesmo tempo, Waddington não consegue resolver esse impasse do script com soluções visuais que poderiam tornar a narrativa, ao menos, visualmente simbólica, avançando algum tipo de acréscimo imagético ao filme.
Assim, O Juízo acaba resultando em um capítulo frágil na carreira dos seus responsáveis com credenciais acima da média. Falta ao longa, o vigor cinematográfico marcante em alguns filmes da carreira de Waddington, em especial, Eu Tu Eles e Casa de Areia. Além disso, o projeto também carece da cadência narrativa que Torres usualmente confere em seus textos.
Direção: Andrucha Waddington
Elenco: Felipe Camargo, Carol Castro, Joaquim Torres Waddington, Criolo, Fernanda Montenegro, Lima Duarte, Fernando Eiras, Kênia Bárbara
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