O Golpista do Tinder

Crítica: O Golpista do Tinder (Netflix)

4.2

Estreou na última semana o documentário O Golpista do Tinder, produzido pela Netflix, e que causou o maior alvoroço nas redes sociais. Isso porque o longa traz a história real de um homem que aplicou tantos golpes em mulheres, utilizando o aplicativo de relacionamento como pesca, que ele literalmente vivia uma vida de milionário, mesmo sem trabalhar com nada.

Começamos o filme sendo apresentados a personagens chaves na trama que envolve Simon Leviev, esse sedutor homem que tem a conta verificada no Tinder (o que dá um respaldo de ele ser alguém real) e tem uma lábia envolvente. Como todo psicopata e estelionatário, o papo é sua armadilha de ouro, já que eles conseguem convencer qualquer pessoa da realidade que eleS criam.

Na primeira protagonista, Cecilie, ele convida para um primeiro encontro num hotel 5 estrelas, seguindo com uma viagem em seu jatinho particular para outro país da Europa. Tudo parece incrível e ela fica realmente deslumbrada com tudo aquilo. Primeiro, porque nunca teve acesso a nada disso. Segundo, porque ele a trata com tamanha gentileza e amorosidade, que rapidamente ela se envolve emocionalmente com ele.

Tudo aquilo, no entanto, se trata de uma armadilha para a vítima se abrir emocionalmente a ponto de dificultar a negativa dos pedidos que virão a seguir. Ele afirma que é filho de um bilionário magnata dos diamantes (que de fato existe, mas não tem qualquer relação com Simon). Então, por conta disso, tem muitos inimigos. Rapidamente a situação se converte em ele pedir dinheiro e cartões da vítima emprestado, pois não pode ser rastreado pelos inimigos.

Ele fez isso com diversas mulheres e calcula-se que chegou a roubar mais de 10 milhões de dólares ao redor do mundo. O Golpista do Tinder vai evoluindo com a entrada de novas personagens, contando suas histórias e como ele aplicava o golpe. Tudo isso se descortinou numa aliança entre algumas mulheres para tentar desmascarar o infrator e conseguir prender ele.

O Golpista do Tinder

Um jornal importante da Noruega comprou a ideia de investigar a história e foi atrás de mais pistas. Envolveu viagens, polícias de diversos países, que culminou em uma matéria expositiva sobre os golpes que ele aplicava. Sem me alongar no que pode vir a ser spoiler, posso afirmar que o final é igualmente satisfatório e frustrante. Talvez mais o último do que o primeiro.

A condução do roteiro é muito bem feita e segura o espectador do começo ao fim. Por se tratar de uma história real e com personagens ali que são as próprias vítimas, o nosso interesse é ainda maior. É angustiante ouvir os áudios reais que ele mandava para as mulheres, as fotos, as mentiras. Além disso, a direção teve o cuidado de não colocar a culpa em cima do aplicativo de relacionamentos ou nas mulheres, o que é muito válido e necessário.

Temos acesso a toda a trama que ele criava para manter o padrão de vida absurdamente ostentador, de carros de luxo, roupas de grife, jatinhos, hotéis 5 estrelas e restaurantes exclusivos. Tudo isso com um golpe muito bem arquitetado e pouco rastreável, o que dificultou completamente a vida das vítimas.

O Golpista do Tinder é mais um relato da triste realidade que algumas mulheres são expostas em qualquer ambiente – seja aplicativo ou encontros em festas ou outras situações – e se tornam vítimas do controle emocional que os homens conseguem exercer e que faz parte de toda uma vulnerabilização que a própria sociedade impõe a elas.

Direção: Felicity Morris