Eu te amo é no Sol

25ª Mostra de Cinema de Tiradentes: Eu te amo é no Sol

3.5

Relacionamentos amorosos são pautados por contextos, circunstâncias, momentos específicos da vida etc. A conjuntura de cada situação, juntamente com as diferentes fases da vida pelas quais as pessoas passam, sentimentos são transformados e o sentido de certas aproximações são retirados com o passar do tempo. Em Eu Te Amo é no Sol, Yasmin Guimarães consegue colocar em imagens toda a complexidade que mudanças internas e externas podem causar em um namoro.

Aqui, o que cria uma nova roupagem para a relação de Júlia com Mati é a saída do Brasil para a morada em um país frio. Esta temperatura perpassa toda produção, seja na luz, na colorização, no texto ou na interpretação das atrizes, a saturação mais baixa revela a frieza que contamina aquele ambiente ficcional. Dentro de todas as possibilidades que poderiam fomentar a união do casal era o calor que aproximava a dupla no passado.

Júlia, que chegou antes no local, é quem mudou nesta equação um tanto injusta. A sua viagem e a distância imposta, antes da chegada de Mati, convocaram uma nova Júlia, uma que pode ter apagado a sua versão anterior, que possui novos desejos, tristezas e angústias. Estas emoções da personagem estão intensamente presentes no roteiro e na direção de Yasmin. Algo que se destaca em sua obra é a sua capacidade de síntese, diante da transmissão de sentimentos tão profundos. E estão todos ali, os sentimentos, em 19 minutos de exibição.

A cada cena, o espectador consegue descobrir as configurações da nova vida de Júlia, a impossibilidade de Mati em retornar para solos brasileiros e a conexão que a dupla possuía no passado. São diversos elementos que, no final das contas, se reúnem em um só: Júlia e Mati. Neste sentido, a complexidade das personagens e do enredo são passadas de maneira mais fluida nos silêncios. As imagens de Yasmin transmitem os olhares e as perspectivas que as personagens compartilham uma da outra. No entanto, durante os diálogos estes pontos são enfraquecidos.

As falas compartilhadas por Mati e Júlia em Eu Te Amo é no Sol deixam uma impressão de que a intimidade delas é menor, menos profunda e especial, principalmente porque o conteúdo do texto mostra uma falta de conhecimento delas, sobre elas. Além disso, alguns momentos são expositivos, como quando ambas conversam na cama sobre a mãe de Júlia. Todavia, as atrizes Maria Leite e Mônica Maria consegue suavizar os diálogos, com pausas e olhares, que deixam as sequências mais orgânicas. Ainda assim, esta característica não compromete tanto o resultado total e a produção conta com uma qualidade significativa, com uma direção bastante atenta aos efeitos que deseja causar.

A seleção de mudar a razão de aspecto quando Yasmin quer mostrar o público que a cena está inserida na lógica interna da narrativa é uma das estratégias efetivas da obra, pois localiza quem assiste a todo instante. Outra escolha certeira é a de trazer o outrora de Júlia e Mati na quentura, na afetividade que o clima tropical permite. Este é um contraponto que cria mais camadas para o que fora e é o namoro delas. Assim, durante toda a projeção, aspectos formais contribuem para o enredo e fazem ele crescer enquanto a sessão se desenrola.

O desfecho de Eu Te Amo é no Sol é um tanto inconclusivo, pois não modifica a situação da trama apresentada, mas a coloca no ponto inicial, talvez. Mas, o que são os romances senão eternos ciclos viciosos que somente são interrompidos quando a vontade de cessá-los é mais intensa do que a memória do calor que um dia foi ofertado. Disso Yasmin tem consciência e consegue expor para a sua plateia plenamente.

Direção: Yasmin Guimarães

Elenco: Maria Leite e Mônica Maria