O Diabo de Cada Dia foi lançado esta semana na Netflix e conta com grande elenco composto por Tom Holland (Vingadores: Guerra Infinita), Robert Pattinson (O Farol), Bill Skarsgård (It – Capítulo 2), Sebastian Stan (Vingadores: Ultimato) e Jason Clarke (Cemitério Maldito). O diretor Antonio Campos, da série The Sinner, nos apresenta uma história bem entrelaçada que fala sobre a relação da religiosidade e os eventos que podem acontecer na vida de uma pessoa, em função da fé. Em uma construção gradativa e sem pressa, o filme vai ganhando o espectador, que fica cada vez mais interessado com os acontecimentos.
Willard (Bill Skarsgård) retorna da Segunda Guerra Mundial com traumas de combate e vai para sua cidade natal, um pequeno vilarejo nos EUA. Logo ele se apaixona e se casa com uma garçonete, se mudando com a família para uma casa distante da cidade. Seu filho Arvin, quando crescer, se tornará Tom Holland, o nosso protagonista aqui. Paralelo a eles, temos a constituição de um casal de psicopatas que age sem a menor dificuldade matando viajantes que pedem carona nas estradas, com um ar de sadismo e humilhação. O terceiro núcleo se completa com a mãe religiosa de Willard, que coloca a fé acima de tudo e está sempre na igreja.
Adaptado do livro homônimo do escritor Donald Ray Pollock, O Diabo de Cada Dia não tem pressa em construir o cenário em que os personagens estão inseridos e os episódios que levam eles a tomar determinadas decisões, mesmo que estranhas. Somos pincelados o tempo todo com as consequências diretas da fé ou da ausência dela. Como forma crítica, o filme quer nos mostrar muito mais o diabo nas ações (como já sugere o título) do que efetivamente pontuar a presença de Deus.
Ao começar a entrelaçar histórias que parecem distintas, o filme constrói os personagens em volta da aura de decepção e falha do divino. Funciona como pequenos capítulos de uma história que pretende se unir em algum momento – e de fato o faz. O atrativo, no entanto, acaba sendo muito mais o todo das narrativas aplicadas do que efetivamente pelo desfecho de cada uma, individualmente.
O elenco é o ponto alto e a causa de O Diabo de Cada Dia. Dando um aprofundamento ainda maior na personalidade dos personagens, cada um vai expressando todo o incômodo e consequências negativas que a religiosidade pode empregar. São papéis completamente diferentes do comum para Skarsgård, Holland e Pattinson, que acabam se tornando o cerne do roteiro. O que deixa à desejar é o aproveitamento efetivo de alguns atores, especialmente Bill e Robert. Eles deixam o longa rápido demais, sem a exploração adequada de seus personagens.
A medida que a trama evolui, vemos que o diabo é, de fato, a própria natureza do ser humano e sua capacidade de distorção dos eventos que o rodeia. Diferentes motivações levam as pessoas a agirem da maneira errada como agem, mas a exploração disso é rasa. Falta aprofundamento das nuances de interpretação e consequências espirituais e O Diabo de Cada Dia acaba passando muito tempo em elementos que não são tão importantes assim. A finalização do filme deixa a desejar neste sentido, pois vai para um lugar comum e usual, ao invés de seguir o rumo mais observativo e monótono da trama.
Mesmo com alguns tropeços, o que vemos em O Diabo de Cada Dia é uma construção intrigante e bem feita da religiosidade utilizada na sua distorção. Uma ótima escolha para o fim de semana!
Direção: Antonio Campos
Elenco: Tom Holland, Robert Pattinson, Haley Bennett, Bill Skarsgård, Sebastian Stan, Jason Clarke, Harry Melling, Mia Wasikowska, Riley Keough, Eliza Scanlen
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