O Amante de Lady Chatterley

Crítica: O Amante de Lady Chatterley

3.5

Adaptação do clássico homônimo da literatura escrito por D. H. Lawrence, O Amante de Lady Chatterley conta a história de uma jovem aristocrata que se apaixona por um dos empregados do seu marido e vive um tórrido caso com ele. Na ocasião em que foi publicado, o livro escandalizou pelas descrições explícitas dos encontros sexuais da sua protagonista. O romance basicamente narra como Connie se liberta sexualmente nessa relação extraconjugal que vive com Oliver, um simples camponês que foi traído pela esposa enquanto estava na guerra.

Esta não é a primeira vez que O Amante de Lady Chatterley ganha uma versão para as telas. Já foram inúmeras adaptações, entre elas, uma minissérie de 1993 estrelada por Joely Richardson, que também está nesta versão da Netflix, porém como a governanta Mrs. Bolton (uma das melhores interpretações do filme, por sinal), e um filme com Sylvia Kristel no papel de Connie em 1981. Para a protagonista clássica do romance, a diretora Laure de Clermont-Tonnerre (de The Mustang) escala Emma Corrin, recém-saída da sua exitosa performance como a jovem princesa Diana na temporada de 2020 de The Crown. Essa versão de Lady Chatterley já acerta com sua escalação principal: Emma Corrin consegue desenvolver todas as nuances e a complexa teia de desejos e descobertas que tomam de assalto o arco de Lady Chatterley na história.

Na condução, Clermont-Tonnerre faz aquilo que recentes e medíocres adaptações de romances eróticos não conseguiram nos últimos anos (nomeadamente Cinquenta Tons de Cinza e 365 Dias): aliar romance e erotismo em um arco consistente, crível e passível de identificação de desenvolvimento psicológico de suas personagens. O Amante de Lady Chatterley de Laure de Clermont-Tonnerre explora toda a odisseia sexual da sua protagonista dando substância à complexa psicologia de personagens que, de fato, se revelam cheias de camadas e se transformam através das suas aventuras sexuais. Tanto Connie, quanto seu amante Oliver, interpretado por Jack O’Connell (de Invencível), de fato se descobrem através de um encontro que, inicialmente. era estritamente sexual e passa a tomar novos sentidos, o do amor.

O Amante de Lady Chatterley

Além de conseguir sustentar a complexa psiquê das suas personagens, a diretora conduz com realismo cenas de sexo que estão longe da artificialidade dos exemplares já citados. Nesse sentido, é impressionante como uma obra publicada em 1928 consegue inspirar um filme repleto de erotismo de forma que dois romances contemporâneos jamais conseguiram em suas franquias.

Um dos traços positivos desta adaptação de O Amante de Lady Chatterley é a maneira madura com a qual ela consegue problematizar a dissociação entre sexo e amor na mentalidade da nossa sociedade. Enquanto parte das produções audiovisuais explora a sexualidade como algo sujo e que, por uma lógica reducionista, não consegue combinar com o amor, tido como algo puro, etéreo, O Amante de Lady Chatterley transita entre essas duas chaves com uma organicidade impressionante. Aqui, o amor também é matéria, orna com o desejo carnal de Connie e Oliver. Em momento algum, sua diretora parece reservar olhares condenatórios para a maneira como sua protagonista explora sua sexualidade ao longo da sua jornada no filme. É libertador perceber a naturalidade com a qual Clermont-Tonnerre retrata sem pudores os desejos carnais e afetivos da sua heroína. Delicadeza, naturalidade e maturidade são ideias que sintetizam a condução de Clermont-Tonnerre para esse clássico romance erótico, reverencia assim a personagem e a obra de D. H. Lawrence como de fato merecem.

Direção: Laure De Clermont-Tonnerre

Elenco: Emma Corrin, Jack O’Connell, Matthew Duckett

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