Baseado na própria infância do diretor Claudio Noce (Aria), Irmãos à Italiana é um filme que procura contar fatos intensos sob uma perspectiva doce e juvenil. Passado no final dos 1970, momento no qual a Itália passava por um momento político complicado, que ficou conhecido como Anos de Chumbo, o ponto principal aqui é que esta é uma obra que procura mostrar todos os seus acontecimentos pelo olhar do pequeno Valério (Mattia Garaci). Ele é um garoto de dez anos que vê seu pai, Alfonso (Pierfrancesco Favino), sofrer um atentado.
Entre tiros e sangues presenciados, é na poesia dos dias de sol e da bola de futebol batida no chão que o longa-metragem posiciona seu foco. Mais ainda, é na relação de Valério e seu novo amigo Christian (Francesco Gheghi) que o público passa a entender os sentimentos mais profundos, intensos e espontâneos de seu protagonista. Além do medo de perder ou se afastar do pai, o ciúme e a rebeldia são traços que surgem na tela, tornando a figura do menino mais complexa e explorada.
A dinâmica entre o emocional de Valério e o perigo que cerca sua família são bem elaboradas narrativamente. O jogo de suspensão com relaxamento imprime uma mescla que faz com o que o espectador nunca esqueça duas coisas: esta é a perspectiva de Valério e a qualquer momento o jogo pode virar e algo de ruim pode acontecer. Neste sentido, os atores conseguem colaborar para a instauração destas atmosferas.
A dinâmica de contracena é algo que chama atenção em Irmãos à Italiana, pois os intérpretes parecem imersos naquela realidade, evocando uma organicidade que traz fluidez para as cenas. A contenção é algo bastante trabalhado aqui, o que faz com que os rompantes e sensações mais fortes se destaquem quando acontecem. Um bom exemplo disto é na cena em que Valério e Christian conversam sobre pular de um abismo, após o plot twist do enredo. Alfonso surge desesperado e abraça o filho.
Neste momento, existem gradações nas tonalidades utilizadas pelos artistas, o que confere um equilíbrio para toda sequência, elevando seu potencial. Além disto, a decupagem, ainda que seja bastante tradicional e até pouco arriscada, dialoga diretamente com o roteiro. Parece que o objetivo ali é fazer com que a história se sobressaia mais do que qualquer outro elemento da obra, algo que é alcançado em sua totalidade. Ainda assim, a sua fotografia acaba saltando aos olhos.
A presença constante de uma forte iluminação, com cores mais abertas, passa a sensação de leveza e inocência. Este fator reforça esta ideia de que tudo é visto e sentido por Valério, é o seu olhar para o mundo, a sua infância repleta de sol, mesmo com o temor do desconhecido e do futuro de seus parentes. Em paralelo a isso, os instantes nos quais são mostrados a vida adulta de Valério são mais cinzentos e azulados, como se aquela luz inteira estivesse nos olhos daquele garoto.
Talvez, o único incômodo em Irmãos à Italiana seja o final de seu segundo ato até o início do terceiro, quando as situações parecem se esgarçar. Não é nada que comprometa a sua totalidade, porém parte da produção fica truncada e repetitiva, quando situações são recorrentes e há uma demora em avançá-las.
Direção: Claudio Noce
Elenco: Mattia Garaci, Francesco Gheghi, Pierfrancesco Favino
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