Difícil harmonizar sensações tão antagônicas quanto o medo que temos de criaturas como zumbis e a sensibilidade por um drama familiar sem pender para um ou para o outro lado da balança. O sul-coreano Invasão Zumbi consegue fazer isso de maneira exemplar. Comandado pelo cineasta Sang-ho Yeon, o filme nos coloca diante de uma situação enervante e claustrofóbica em que os passageiros de um trem rumo a Busan são surpreendidos por uma epidemia zumbi que se alastra nos demais vagões do veículo. Assim, ao longo de boa parte da projeção, assistimos aos passageiros do vagão, por ora, livre da epidemia, tentando se esquivar dos “comedores de gente” que estão dentro e fora do trem. O objetivo de todos é chegar a uma base de proteção aos não infectados.
Invasão Zumbi tem uma qualidade muito evidente, administra com maestria as demandas da sua própria fita como longa de terror/ação, criando sequências dinâmicas, que prendem o espectador pelo teor da tensão gerada por cortes precisos e por uma impecável construção de uma atmosfera de incertezas. O filme não perde o fôlego em momento algum, ainda que dê muito pouca trégua a sua plateia (atônita pela sucessão frenética de eventos). Ao mesmo tempo, Sang-ho Yeon, que também assume o roteiro do filme, consegue encontrar brechas na sua ação caótica para desenvolver seus personagens e fazer com que a fita ganhe um caráter humano e que, consequentemente, gere algum tipo de empatia no espectador. Temos a comovente história de conexão entre pai e filha (talvez a mais forte de todas), a nobreza e a coragem do sacrifício de alguns dos passageiros não infectados pelos demais e até mesmo uma tragédia romântica nos moldes de Romeu e Julieta.
Tudo isso faz com que Invasão Zumbi não seja um filme de ação zumbi que aborde o seu teor fantástico em vão. Claro que seu propósito central é a dose cavalar de entretenimento que seu subgênero costuma levar às plateias, mas nada disso seria eficiente se não existisse o forte componente humano que esse filme traz. Diante do sucesso de recepção que tem sido, não me espantaria se daqui uns anos algum estúdio americano bancasse um remake desse longa. Particularmente, como em outros casos, preferia que Hollywood cooptasse menos as histórias na sua superfície do que as noções sobre narrativa que existem por trás do funcionamento desses casos bem sucedidos. São tais estratégias – velhas conhecidas, mas, estranhamente, cada vez menos postas em prática – que fazem de Invasão Zumbi um sucesso que vai na contramão do efêmero.
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