Há todo um cenário específico e encaminhamentos já muito conhecidos quando o assunto são filmes de detetive. Um crime acontece, geralmente um assassinato, e somente um investigador é capaz de desvendá-lo. A criação de atmosfera e os clichês do subgênero foram, inclusive, pautados em outro longa-metragem recentemente. Em Veja Como Eles Correm toda esta lógica comportamental do protagonista, que desvenda o mistério utilizado de métodos não convencionais e que está cercado de pessoas de índole duvidosa são apontados, mostrando como todas estas repetições podem ser subvertidas ou repetidas, para criar um jogo de suspensão com o espectador. No entanto, Glass Onion: Um Mistério Knives Out vai um pouco além e se utiliza da forma para potencializar o seu plot twist.
O primeiro ato inteiro do longa segue a fórmula da produção que traz um caso de crime. Além dos elementos citados no parágrafo anterior, aqui, ainda há o fator “personagens reunidas em um espaço fechado para alguma ocasião especial”. Por criar todo um encaminhamento semelhante ao que já foi bastante realizado, até a virada da trama, a sessão pode ser um tanto entediante. Mas, vale a pena esperar a reviravolta, porque, depois que ela acontece, a história começa a ficar instigante.
Apesar do fato de que o criminoso já ser óbvio, desde a primeira cena que ele aparece, descobrir os segredos de cada personagem e acompanhar a investigação feita por Benoit (Daniel Craig, 007 – Sem Tempo Para Morrer) e Helen (Janelle Monáe, Harriet) é empolgante. Isto porque a dinâmica entre os atores funciona. A dupla joga em cena, deixando espaços para que os diálogos de Glass Onion: Um Mistério Knives Out crescem a cada frase trocada entre ele. Inclusive, este talvez seja o papel mais expressivo de Craig, que conseguiu imprimir sentimentos no seu rosto e colorir o texto com intenções que ajuda a construir Benoit como este investigador atento, mas também como um homem que cria um laço empático com as pessoas que o cercam.
Além disso, o texto contribui para uma combinação positiva entre elaborar complexidades e background das personagens, com a conexão dos fatos que ligam o assassino ao crime cometido. Por fim, é possível também falar sobre a direção de Rian Johnson. O realizador que comandou o fatídico episódio da mosca, na série Breaking Bad, carrega consigo o talento de olhar para os detalhes e saber o momento de se segurar ou quando ser mais explícito no encaminhamento de criatividade dentro da sua decupagem. Um exemplo é toda a sequência entre Benoit e Helen, quando os dois estão sentados na mesa, falando sobre o passado dos amigos de sua irmã.
Aqui, o esperado poderia ser ver um plano/contraplano, com a câmera parada, mas Johnson cria uma dinâmica – que causa até certo estranhamento-, na qual é possível sentir a aflição de Helen, através do uso da pan horizontal. Este é apenas um exemplo, mas durante toda projeção é possível perceber o esforço de Johnson em se manter discreto para que crie alguma sensação mais intensa quando o efeito seja inserido. Isto mostra o quão ele estava consciente do que a narrativa precisava. Desta maneira, no geral, Glass Onion: Um Mistério Knives Out tem um resultado positivo.
Todavia, o seu começo arrastado e morno faz com que a exibição não alcance um resultado tão bom quanto poderia. Além disso, o restante do elenco – como Kate Hudson (O Maior Amor do Mundo), Kathryn Hahn (Homem-Aranha no Aranhaverso) e Edward Norton (Beleza Oculta) – se seguram muito nos arquétipos que suas personagens carregam. Neste primeiro ato insosso, esta estratégia funciona, mas, quando o enredo avança e se aprofunda, os intérpretes não acompanham, com exceção de Daniel e Janelle. O que vale, na verdade, é que, no final das contas, há toda uma diversão que o filme proporciona, mesmo com alguns tropeços.
Direção: Rian Johnson
Elenco: Daniel Craig, Janelle Monáe, Kate Hudson, Kathryn Hahn, Edward Norton, Leslie Odom Jr., Jessica Henwick, Jessica Henwick, Dave Bautista, Ethan Hawke
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