Gladiator II (2024)
Paul Mescal em cena de divulgação de Gladiator II (2024)

Crítica: Gladiador II

Crítica: Gladiador II
3.4

O cinema, desde seu início, sempre respondeu bem a grandes épicos. Spartacus (1960), Lawrence da Arábia (1962) e Cleopatra (1963) são exemplos de uma década onde os longas-metragens desse subgênero faziam um sucesso estrondoso. O tempo passou e a quantidade de lançamentos de dramas épicos diminuiu – como ocorreu com subgêneros anteriores e posteriores à ele -, mas sempre existiu um lugar para tais filmes, principalmente em Hollywood. Existe um lugar especial para esse formato fílmico e suas contações de jornadas e vitórias epopeicas. Lá no início dos anos 2000, por exemplo, o diretor Ridley Scott (Casa Gucci, de 2021) trouxe essa fagulha consigo em Gladiador. Agora, 2024 anos depois, o diretor tenta acender novamente essa fagulha com Gladiador II.

Gladiador II marca dois momentos importantes na carreira do diretor Ridley Scott. O primeiro é a sua nova tentativa de produzir um drama épico nos moldes clássicos – coisa que veio tentando fazer nos últimos anos com O Último Duelo (2021) e Napoleão (2023), mas falhou. O segundo marco é o retorno e Scott com uma de suas histórias de maior sucesso sendo continuada por ele próprio, diferente do que vimos em Blade Runner 2049 (2017) ou de Alien – Romulus (2024). Essa união de fatores colocou o cineasta numa posição de acertos que geraram resultados positivos que há muito não ocorria em sua carreira.

Ainda que a existência de sua narrativa não se justifique, Gladiador II não vive única e exclusivamente por conta de seu antecessor. Na verdade, ele funciona perfeitamente dentro da lógica de um épico clássico – inclusive por certas obviedades narrativas tanto da tragédia, quanto do melodrama -, e isso faz com que o filme não tenha apenas uma sobrevida. Mesmo que possa se questionar a razão de fazer uma continuação agora, tantos anos depois, o resultado fílmico acerta onde precisa e entrega uma narrativa coesa e grandiosa como seu antecessor.

O roteiro de David Scarpa (Todo o Dinheiro do Mundo, de 2017) permite que a narrativa tenha três frentes narrativa principais e, com isso, dá oportunidade para que boa parte do elenco central tenha momentos de destaque e entregue performances poderosas. Esse é um dos pontos altos do filme. Gladiador II é um drama épico que se constrói a partir de uma teia estelar de intérpretes. E são essas performances e seus arcos narrativos que conduzem a atenção do espectador do início ao fim do longa. Com todas as suas liberdades históricas que considero desimportantes, Scarpa entrega um roteiro amarrado e bem conduzido para boas performances.

Gladiator II (2024)
Denzel Washington, Pedro Pascal e Connie Nielsen em cena de divulgação de Gladiator II (2024)

Quando se fala das três frentes narrativas de Gladiador II, em primeiro lugar está Paul Mescal (Desconhecidos, de 2023). Ele comanda o eixo principal da história com sua jornada de vingança pela morte da esposa e de confronto com o seu passado. Do outro lado, Connie Nielsen (Mulher-Maravilha 1984, de 2020) e Pedro Pascal (Robô Selvagem, de 2024) embarcam numa busca pela mudança política de Roma, enquanto a personagem de Connie ainda precisa também se confrontar com seu passado.

A terceira frente é – e essa merece um destaque especial – a linha narrativa de Denzel Washington (O Protetor: Capítulo Final, de 2023) com sua ascensão e desejo de poder. Denzel é um show à parte. Ele está claramente usando sua experiência com o teatro shakesperiano para dar vida a sua tragédia particular dentro da narrativa macro de Gladiador II. E é com isso que o ator entrega uma das melhores performances masculinas do ano, até então – ao lado de Nicolas Cage em Longlegs – Vínculo Mortal (2024).

Gladiador II é uma surpresa positiva tanto para os fãs do original como do diretor. Esse longa foi feito para agradar gregos e troianos por carregar em si uma estrutura e narrativa bem definidas e amarradas, ao mesmo tempo que agrada com o entretenimento do star system e a escolha do elenco. Ao final da sessão, a pergunta sobre a necessidade ou não de uma continuação do filme de Scott de 2000 passa a ser desimportante. O que fica e se torna relevante é que o cineasta foi capaz de entregar uma continuação à altura do original e do subgênero.

Direção: Ridley Scott

Elenco: Paul Mescal, Pedro Pascal, Joseph Quinn, Fred Hechinger, Lior Raz, Derek Jacobi, Connie Nielsen e Denzel Washington

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